11/07/2011

O desabafo de uma índia ...


“E, se por algum momento eles não nos permitem sonhar, não 
os deixaremos dormir”


Em Belo Monte 
A região ficou pequena para a professora  Sônia Bone Guajara; formada em Letras pela Universidade  Estadual do Maranhão (UEMA) e  que por muitos anos foi professora na unidade local da APAE, atividade que acumulava  com a de  dirigente da Coapima, Organização Não Governamental (ONG) que atua na luta pelos direitos indígenas.

Como ativista dos direitos dos povos indígenas Sônia já esteve em vários países da América do Sul; bem como  nos  Estados Unidos, Canadá, e Europa, num total de 12 países. 

O  mais recente país onde esteve  levando a voz dos povos das florestas foi a Finlândia.

E agora  Sônia se junta aos parentes  da Amazônia contra a construção de Belo Monte.....

Em Manaus

No texto abaixo, uma espécie de carta aberta, a índia Guajajara faz um desabafo a política indigenista protagonizada hoje pelo Governo Federal...



Carta aberta.... O desabafo  



Na Finlândia


Meus parentes: Guajajara, Krikati, Gavião e demais povos presentes,

A luta não tem sido fácil e a cada dia parece se tornar mais difícil. Entretanto, não podemos desistir jamais. Estamos vivendo um momento desfavorável aos interesses dos povos indígenas.

O governo que temos hoje, que se diz de esquerda, mas é um governo ditador, autoritário, anti indígena que retrocede os direitos conquistados e está sempre ao lado dos grandes empresários, grandes latifundiários, grandes empreiteiras e que promove a corrupção instalada no país.

Em nome do progresso roubam a nossa paz, empurrando para os nossos territórios o agronegócio, a mineração, a indústria madeireira e os grandes empreendimentos.

Por tudo isso, precisamos continuar fortes e resistentes como sempre fomos durante esses 511 anos de resistência indígena, combatendo a invasão, a exploração, a opressão e as diversas formas de tentativa de extermínios como é o caso dos povos isolados na Amazônia, dos parentes expulsos de suas terras no Mato Grosso do Sul, as epidemias assolando no Vale do Javari, a criminalização e assassinato das lideranças indígenas no Nordeste Brasileiro. No Maranhão não reconhecem a luta do movimento indígena e se fecham para o diálogo.

Não sabemos mais o que significa democracia, pois o Brasil cujo slogan ficou famoso por se dizer “Brasil um país de todos”, é um país de mentiras, quando continuam dizendo lá fora que a situação dos povos indígenas é uma situação confortável e que não há mais problemas com demarcação de terras; é um país de abuso, quando a presidente Dilma eleva cada vez mais de posição, uma pessoa como Aldo Rebelo que defende a destruição das florestas e a construção de hidrelétricas em terras indígenas desprezando as vidas que dali sobrevivem; é um país hipócrita, quando diz que vai reduzir o desmatamento e ao mesmo tempo autoriza desmatar quilômetros de florestas em nome do PAC para construir Belo Monte; é um país que prima pela esmola quando lança um programa Bolsa Verde dando R$ 50,00 por família e diz ser um programa revolucionário para reduzir a pobreza e assim por diante.

Alguns dos recentes fatos ...


1 – FUNAI DEMITE CACIQUE QUE É ANTI BELO MONTE
(Jornal o Estado de São Paulo - 03/11)


2 - Decreto presidencial institui comissão para discutir mineração em Terras indígenas: COMISSÃO VAI RETOMAR ANÁLISE DE EXPLORAÇÃO MINERAL EM TERRAS INDÍGENAS
(Agência Câmara 01/11/2011)

3 – Política Anti indígena: GT DA FUNAI PARA DEMARCAR TERRAS INDÍGENAS SÓ COM AUTORIZAÇÃO DA PRESIDENTA
(Porantim Setembro 2011).

4 – Retrocesso no Código Florestal: NOVO CÒDIGO DEVE SEGUIR PARA O SENADO DIA 22
(Agência Senado 03/11/2011)

Enfim parentes, para mudar a realidade desse país que apresenta vergonhosos contrastes, que a nossa luta é verdadeira e inabalável.

Estou aqui em Manaus, não posso estar presente neste momento no Maranhão, mas a minha ausência se dá exatamente por tentar marcar presença nestas discussões nacionais que hoje parecem distantes, mas tão logo poderão trazer consequências danosas às nossas vidas. Precisamos fazer as denúncias e cobrar imediatas soluções.

Estou solidária ao Movimento que hoje se faz no Maranhão. Sou dessa terra, dessa gente e sei o quanto temos sofrido e o quanto somos abandonados pelo poder público.

Como guerreiros e guerreiras que somos, capazes de vencer as dificuldades e mostrar para a oligarquia que unidos somos mais fortes. Que esse momento possa contribuir para transformar nossas realidades e trazer para nossas aldeias a paz que tanto lutamos para conquistar.

E, se por algum momento eles não nos permitem sonhar, não os deixaremos dormir.

Força na luta parentes!!

Que o Maranhão acorde da sua tirania e se renda as cores e cantos dos nossos povos.

Saudações indígenas,
Sônia Guajajara

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