Reinaldo Azevedo, jornalista |
POR REINALDO AZEVEDO
No critério do ridículo, Álvaro Dias só
perdeu para Cabo Daciolo. Se este emendava uma “para honra e glória do Senhor
Jesus” a cada bobagem que dizia, Dias não fazia por menos: “Para honra e glória
do senhor Sérgio Moro”. Prometeu nomear o juiz Ministro da Justiça umas 200
vezes. Vem fazendo isso há tempos. E não foi desautorizado, até agora, pelo
coruscante magistrado, que chega a competir com os holofotes…
No momento mais engraçado da noite, o
destrambelhado Daciolo acusou Ciro Gomes de ser fundador do “Foro de São
Paulo”, o que é mentira, e pediu que o pedetista explicasse o que é “Ursal”… E
Ciro, mal contendo o riso: “O que é o quê? O que é isso?”
O ex-bombeiro, ora deputado, com
gramática peculiar, explicou tratar-se da “União das Repúblicas Socialistas da
América Latina”. Ciro, então, afirmou: “A democracia é maravilhosa, mas tem seu
preço”. Daciolo acabou sendo útil a Jair Bolsonaro. E nem tanto pela dobradinha
que chegaram a ensaiar. É que, no contraste com o deputado do Patriota, até o
“Bolsomito” assume ares de Schopenhauer… Não! O candidato do PSL não disse nada
de relevante e não explicou uma miserável de suas propostas. Mas demonstrou que
sabe se conter. Conseguiu driblar o despreparo com generalidades sobre isso e
aquilo. Até tentava sorrir.
A minha pegada é psicanalítica: acho
que Bolsonaro se via no espelho. Ele certamente ouvia a própria voz quando o
bombeiro falava e, digamos, viu materializar-se, no desempenho do outro, o seu
próprio ridículo.
Guilherme Boulos cumpriu o papel de “o
socialista da turma”: contra os ricos, os bancos, os demais candidatos, todos
eles “tons de Temer”, expressão repetida à exaustão. Encarnava o Lula de 1989,
com a gramática no lugar, mas não as ideias. A realidade mudou, mas está ali um
esquerdista em construção.
Henrique Meirelles tem o que dizer, mas
ainda está pouco à vontade: tentou um tom um pouco mais agressivo, mas o
figurino não se ajusta à sua fala. Aquele que é, provavelmente, o único
verdadeiramente liberal do grupo apelou mais de uma vez ao governo Lula para
exaltar os próprios feitos.
Geraldo Alckmin (PSDB) foi quem vestiu
melhor o figurino “presidencial”. De longe, foi o que adjetivou menos e
detalhou mais as propostas. Como é sereno e fala com desenvoltura, acabou tendo
um bom desempenho em meio às falas desencontradas e à pletora de generalidade
da maioria dos adversários.
Ciro demonstrou a retórica azeitada de
sempre — é quem tem o discurso mais arrumado, goste-se ou não do que diz —, mas
o formato não permitiu que desenvolvesse o seu melhor.
Marina Silva foi Marina Silva, mas,
como já notei, ela anda com menos clorofila. Parece estar cada vez mais em
outra dimensão. Resolveu assumir o papel de ombudsman dos demais candidatos e
se saiu com uma patetada ao tentar pegar no pé de Alckmin por causa do apoio do
centrao: “A forma como se ganha determina a forma de governar”. É? Bom saber.
Como Marina só se coligou com o PV, se ela ganhar, governará sem ninguém, como
ditadora.
E por que Amoedo não estava? Porque o
Artigo 46 da Lei Eleitoral determina:
“Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais (…).
“Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais (…).
Emissoras deveriam ser livres para
convidar quem lhes desse na telha. Mas há essa exigência. E cabo Daciolo se
enquadra nas regras. Pela honra e glória do senhor Jesus.
Que amava também as pessoas ridículas.