3/25/2024

SOMOS MAIS DE UM

 

ElsonMAraújo

 

Somos mais de um, em um corpo só. O mais forte é aquele que alimentamos melhor

 

Na ficção, o filme Fragmentado causou espanto ao evidenciar um vilão que dava vida, ou melhor, acumulava várias personalidades. Cada uma com suas peculiaridades. Uma sem nenhuma comunicação com a outra, a não ser o corpo aparente. Um filme que merece ser visto mais de uma vez para uma melhor compreensão.

A produção de 2016, dirigido M.Nigth Shyamalan , gira em torno do personagem Kevin, que possui 24 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente com  força do pensamento. O filme é inspirado no documentário “Monstros interiores: as 24 personalidades de Bily Milligam”

Em miúdo, a produção mostrou, com os devidos descontos, um distúrbio que tem nome, e é objeto de estudos profundos. Denomina-se transtorno dissociativo de identidade, anteriormente denominado transtorno de personalidade múltipla, que é quando duas ou mais identidades se alternam no controle da mesma pessoa.

Pode ser considerado raro, mas existe. E Sem trocadilho: há muitas pessoas com personalidades múltiplas mórbidas, e nem sabem disso.

Ano passado, se não me falha a memória, o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem especial sobre o tema. Vi a matéria, fundamentada com algumas entrevistas de pessoas supostamente com o disturbio, que logo me reconduziu à memória de fragmentado. A matéria mostrou que de fato estudos comprovam que é possível que um ser humano acumule personalidades distintas. Ali, pude constatar que ainda há muito, mais muito, no ser humano, principalmente as coisas produzidas no cérebro, para ser estudado.

Há mais de duas semanas que me debruço sobre uma versão digital do livro “Cérebro: Uma biografia”, do neurocientista e professor da Universidade Stanford (EUA) David Eagleman. Uma obra inquietante, publicada em 2017, onde o autor com muita base científica, mas de modo bem didático, dá detalhes sobre alguns dos aspectos estudados e conhecidos de um dos órgãos humano dos mais pesquisados.  No atual grau de evolução  do homo sapiens, essa massa se apresenta com um quilo e meio, e conforme o autor, abriga cerca de 86 bilhões de células nervosas, além muitos mistérios.

Em algumas passagens do livro é possível atentar para  complexidade do funcionamento do cérebro humano, principalmente quando ele fala do controle de impulsos e do complicado ato de escolher.

Nunca imaginei que uma simples escolha mobilizasse, inconscientemente, tantos mecanismos internos e tantas batalhas de Eus, até se materializar. O autor de uma biografia do cérebro para se fazer entender refere-se ao conflito do ato de escolher como um verdadeiro parlamento neural, onde diversos partidos políticos rivais se digladiam para comandar o Estado.

“Somos criaturas complexas de muitos impulsos e todos eles querem ter o controle” escreve David Eagleman que completa: Sem a capacidade de pesar alternativas, seríamos reféns de nossos impulsos mais fundamentais. Nosso cérebro faz avaliações sociais constantemente. O cérebro tem instintos inatos para contactar quem é digno de confiança e quem não é”

Nesse momento não teve como não ser reconduzido, pela enésima vez, a alguns momentos do filme   Fragmentado.

Pensando bem, desconsiderando-se as situações que carecem de intervenção psiquiátrica, se a gente parar e pensar um pouquinho sobre nosso comportamento de todos os dias e de todas as horas, logo vamos descobrir que na verdade todos nós, somos mais de um. Não é loucura. Em determinado momento surge um EU simpático, educado, em outro, um EU diverso agressivo, insensível; e capaz de múltiplas maldades, se não for contido. São EUS que não se pode contar, num conflito permanente.

Depois da leitura de Cérebro: uma biografia, uma conclusão elementar: é preciso que adquiramos a consciência de que, queiramos ou não, em regra somos seres múltiplos que ocupam um único corpo e os que prevalecem são aqueles que mais alimentamos. Se o alimentarmos, crescem tanto os EUS do bem, quanto os EUS do Mal.

O EU que gosta e o que não gosta de leitura, o vilão e o bandido, o político e o apolítico, o ansioso e o não ansioso, o seguro e o inseguro, enfim, são EUS em quantidades difíceis de contar, mas que necessitam de vigilância consciente para que a gente não perca o controle e venha precisar de apoio psiquiátrico.

O curioso quando a gente descobre que todas essas batalhas de EUS, ocorrem na escuridão das quatro linhas dessa massa cinzenta, muito bem protegida numa caixa craniana, e que é responsável pela conexão todas as funções físicas e emocionais (consciente e inconsciente), e as ações voluntárias e involuntárias do nosso corpo.

Indo para o final, a ciência já comprovou que o desenvolvimento físico do ser humano é céfalo/caudal. Denominação esquisita para dizer que tal desenvolvimento ocorre da cabeça para o resto do corpo.  O equilíbrio primeiro é o da cabeça.  Depois segue o fluxo.

É de supor que se esse fenômeno ocorre da cabeça para os pés porque há algo muito importante e valioso ali que não pode sofrer danos, e que precisa ser preservado.  Um santo graal chamado cérebro.

Danifique-se esse órgão, e a depender da região afetada, o ser humano sofre mudanças físicas e comportamentais. Pode se perder os movimentos de membros, e até ter nossos festejados sentidos sensoriais, como o olfato, paladar, tato, visão e audição, avariados.

Não sou eu quem digo, são os estudos realizados e os fatos. Quando alguém sofre um derrame cerebral grave, um acidente doméstico ou de trânsito, e bate forte na cabeça, por exemplo, é comum surgirem “defeitos” graves. Nosso colega jornalista Aurino Brito, de saudosa memória, sofreu anos atrás um AVC e embora não tenha perdido movimento dos membros inferiores e superiores, teve a área do cérebro responsável pela fala afetada, e nunca mais pode falar.  Cito ele, mas temos vários exemplos.

E de volta à Cérebro: uma biografia, encerro o texto deste final e início de semana com uma frase do autor sobre os mistérios do Cérebro: “O corpo com que chegamos é, na realidade, apenas o ponto de partida para a humanidade

 

 

 

 

 

 

 

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3/03/2024

OS CEM ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE IMPERATRIZ

                                                     Godofredo Viana, presidente do Maranhão 
                                                     em 1924

ElsonMAraujo

 

Imperatriz é uma das únicas cidades do Maranhão que entre as datas magnas, historicamente, celebra a da fundação, 16 de julho de 1852, e não da emancipação política, ocorrida dia 22 de abril de 1924, como acontece com a grande maioria dos municípios maranhenses.  Nesse aspecto, junta-se a São Luís, a capital maranhense fundada pelos franceses a oito de setembro de 1612, fundada no curso do segundo século da chegada dos europeus nas terras do pau brasil.

De forma esparsa já tem algum tempo que o 22 de abril é lembrado por historiadores e pesquisadores da cidade.  O jornalista e pesquisador Edmilson Sanches cita a data na Enciclopédia de Imperatriz, e sempre que o momento requer, nas suas palestras, também lembra a data esquecida.  O jornalista Coló Filho, de O Progresso, é outro que, uma vez ou outra, chama a atenção para essa página esquecida, ou deixada de lado, da história da terra fundada pelo Frei Manoel Procópio.

Com a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz (IHGI), ao considerar-se que em abril próximo ocorre o centenário de emancipação política da cidade, o tema passou a ser objeto de pesquisa de seus membros; destacando-se o acadêmico Ribamar Silva, que também tem assento na Academia Imperatrizense de Letras.

Ribamar escreve um livro sobre a implantação do Poder Legislativo em Imperatriz, e ao mergulhar fundo nas pesquisas para a construção da obra despertou curiosidade sobre os acontecimentos, os movimentos e os atores políticos da época que teriam motivado o então mandatário do Estado Godofredo Viana a assinar a certidão do nascimento político/administrativo da hoje, oficialmente, segunda capital do Estado.

Os levantamentos do pesquisador já deram lugar uma palestra e o assunto foi tema da reabertura do ano acadêmico da Academia Imperatrizense de Letras, logo depois do Carnaval. Ao lançar luzes sobre o tema Ribamar Silva levantou uma polêmica ao intuir que diferente do que ocorrera em outros municípios maranhenses a emancipação não decorreu de nenhuma luta ou bandeira levantada pela incipiente Imperatriz do final do primeiro quartel do século XX.  Não foi encontrado por ele nenhum documento, publicação ou texto que indique algum movimento prévio, ou comemoração para recepcionar a boa nova. Para ele, a cidade teria recebido a notícia com apatia.

Com a citada descoberta, Ribamar abre espaço para futuras pesquisas sobre o período que antecedeu o ato que culminou com a emancipação política da cidade. A decisão do governador Godofredo Viana teria sido mera obra do acaso? Ou teria decorrido de alguma luta dos políticos e a elite econômica da então povoação daqueles ido.  Espaço aberto para  a quem interessar possa, buscar subsídios para contrariar as pesquisas do pesquisador Ribamar Silva ou apresentar, documentalmente, provas de algum movimento emancipacionista da época capaz de ter sensibilizado o então presidente do Estado do Maranhão, como era denominada a figura do governador, que na mesma ocasião emancipou num bolo só as vilas de  Carutapera,  São Francisco, Icatu,  e São Miguel.

Sobre a fundação de Imperatriz há muita literatura nos diversos formatos, mas nada sobre a emancipação.  Por enquanto não se deparou com nada nos arquivos históricos.

No livro O Sertão ,  subsídios para a história e geografia do Brasil, da escritora maranhense, Carlota Carvalho, publicado em 1924, ela cita alguns nomes que compunha a elite econômica e  política  da cidade daqueles tempos, tais como Honório Fernandes Primo,  Antônio Chaves,  Coriolano de Sousa Milhomem, Félix Alberto Maranhão,  Emiliano Herênio Alvares Pereira;  José Lopes Teixeira,  Doroteu Alves dos  Santos, e Manoel Herênio Alvares Pereira, mas não faz qualquer referência a algum movimento emancipacionista levada a efeito por eles.

Ela ainda escreve “ninguém, porém, há procurado desenvolver a instrução, aumentar os conhecimentos humanos e elevar a altura e moral do povo”. É dessa forma que Carlota Carvalho define comportalmente a elite da cidade do período da emancipação da cidade. Tema desconhecido ou, por causas ainda desconhecidas fora propositalmente esquecido por ela?

 

                                                     Cópia da Lei que emancipou Imperatriz

 

 

 

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