Élio Gaspari, jornalista |
“Sérgio Buarque
de Holanda ensinou: ‘Nós não temos conservadores no Brasil, temos gente
atrasada.’ Essa gente atrasada estagnou a economia durante o século XIX e no XX
faliu as grandes companhias de aviação brasileiras.
No XXI, produziu os desastres de
Mariana e Brumadinho. Bolsonaro elegeu-se presidente com uma plataforma
conservadora, amparado pelo atraso. Sua campanha contra os organismos do meio ambiente
foi a prova disso. Não falava em nome do empresariado moderno do agronegócio,
mas da banda troglodita que se confunde com ele.
Outra bandeira de sua ascensão foi a
defesa da lei e da ordem. A conexão dos ‘rolos’ de Fabrício Queiroz com as
milícias do Rio ilustrou quanto havia de atraso na sua retórica. As mineradoras
moveram-se nos escurinhos do poder e, mesmo depois de Mariana, bloquearam as
iniciativas que aumentariam a segurança das barragens. Deu Brumadinho.
As perdas da Vale nas Bolsas e com as
faturas dos advogados superarão de muito o que custaria a proteção de
Brumadinho. Será a conta do atraso. Com menos de um mês de governo, Bolsonaro
foi confrontado pela diferença entre conservadorismo e atraso. Muita gente que
votou nele pode detestar o Ibama e as ONGs do meio ambiente. Também pode achar
que bandido bom é bandido morto. Quando acontecem desgraças como Brumadinho ou
quando são expostas as vísceras das milícias e seus mensalinhos, essas mesmas
pessoas mudam de assunto, e o presidente fica só, como ficou o general João
Figueiredo depois do atentado do Riocentro.” (Globo ou Folha)