Tenho visto,
principalmente nas redes sociais, muita gente aqui e fora do Brasil se
alinhando a correntes ditas ideológicas de direita ou de esquerda. Os grupos e
movimentos se espalham mundo afora e um primeiro efeito {colateral} disso é a
intolerância em ambos os lados e que, em muitos casos, extrapolam o verbo e até
chegam a desembocar no registro de agressões físicas. Mais em tempo de intenso
ativismo nas redes sociais o que é mesmo ser de esquerda e o que é ser de
direita?
Para
substanciar o raciocínio antes uma pequena provocação: considerando o que se
chama hoje de espectro ideológico ao se analisar a trajetória, as ideias, as palavras,
as pregações do maior de todos os líderes populares que já andaram sobre a
Terra que foi Jesus, estaria ele no "campo da esquerda ou da direita. Ou
não se enquadraria em nenhum dos dois?
Não se tem nas
escrituras sagradas sinais de que Jesus teria acumulado algum tipo de tesouro
aqui na Terra durantes seus 33 anos entre nós. Ao contrário, Ele se insurgiu
contra a exploração dos mais pobres com quem repartia o pão. Suas ideias
revolucionárias inflamava os corações das pessoas, incomodaram os poderosos do
seu tempo e o resultado o mundo inteiro conhece: foi preso, martirizado, morto,
sepultado, mas ressuscitou ao terceiro dia.
Certo é que ele falava para todos mundo, mas, claramente, sua preferência era pelos pobres.
Indo um pouco
além. Como reagiriam os ativistas de redes sociais {da direita ou da esquerda}
se um homem nascido numa manjedoura, filho de uma dona de casa e de um
carpinteiro aparecesse nas esquinas e nas praças e na grande rede
apresentando-se como o filho de Deus, operando milagres e defendendo a justiça,
a igualdade a fraternidade e até oferecendo a outra face ao inimigo quando
agredido? E se em tempos de hoje esse mesmo desse uma tuitada
propondo que : "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus
bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha
e siga-me" ?
Não é muito
difícil responder: pregado na cruz certamente que não seria, mas com
certeza seria socialmente crucificado diariamente. No mínimo chamá-lo-iam de
louco. Ou você acha que não?
Dito isso,
voltemos à pergunta: o que é mesmo ser de direita e o que ser de
esquerda?
Não tem quatro
meses o advogado e acadêmico membro da Academia Imperatrizense de Letras
Agostinho Noleto Soares escreveu um pequeno livro chamado "
Polarização Direita X Esquerda no Brasil" no qual contribui
para que o leitor chegue a uma compreensão, inclusive histórica,
desses dois conceitos ditos ideológicos nascidos que foram na
revolução francesa em 1792.
Teria sido
assim: não suportando mais a opressão da Monarquia os franceses, em
defesas das liberdades, ocuparam as ruas, derrubaram a nobreza e tomaram o
poder. A revolta culminou no ano seguinte na execução (guilhotina) do rei Luís
XVI, em Janeiro de 1793.
"Toda
doutrina fundante da Revolução Francesa traduz-se em três palavras que ecoaram
pelo mundo afora e ainda repercutem nos dias de hoje: liberte, égualité, e
fraternité" escreve Agostinho Noleto Soares.
Pois bem,
primeiro passo dos revolucionários franceses logo após a chamada "queda da
bastilha" foi formar uma assembleia constituinte para normatizar as
conquistas desejadas.
Conforme Soares, no Plenário da assembleia agruparam-se, do lado direito aqueles que defendiam mais liberdade em todos os aspectos da vida republicana mesmo que em detrimento da igualdade proclamada. Era composta pela burguesia que ajudou fortemente na derrubada do regime monárquico.
"Do lado
esquerdo do plenário sentavam-se os que privilegiavam a igualdade de direitos
entre todas as classes sociais, mesmo que para isso fosse preciso restringir
algumas liberdades das classes mais favorecidas a fim de que os princípios da
revolução alcançassem todo o povo. Desde então, essa plataforma plenária deu
nome à Direita e Esquerda políticas, não mais pelo agrupamento de
assentamentos, mas pelas ideias defendidas (SOARES, 2019, p.16)
Para ser mais
elucidativo durante a Assembleia Nacional Constituinte Francesa as camadas mais
abastadas não gostaram da participação dos mais pobres optando por sentarem-se
assim do lado direito. É por isso que o lado esquerdo ficou associado à luta
pelos direitos dos trabalhadores, e o direito ao conservadorismo e à elite.
Descrita dessa forma, portanto, a razão histórica da existência desses dois termos tão pronunciados nos tempos de hoje mas, como tudo o tempo aperfeiçoa ou destoa, atualmente, como explica o já mencionado autor , entende-se como à direita aqueles que exercitam palavras e ações em favor das classes conservadoras, produtoras da riqueza nacional compreendendo-se a partir daí que a economia é que faz girar a roda das prosperidade e do desenvolvimento com liberdade para gerar riqueza e promover a felicidade geral da nação.
Á esquerda,
conforme o escritor Agostinho Noleto, diz-se de quem defende a intervenção do
Estado na economia para evitar o achatamento dos mais pobres na base da
pirâmide social pois não é verdade que somente a geração de riqueza
tenha o condão de promover justiça social. Eis porque, diz ele, o governo
precisa criar políticas públicas de distribuição da riqueza nacional que a volúpia
do capitalismo não consegue isoladamente. Igualdade, proclama a esquerda,
porque um País rico, mas socialmente injusto, jamais será desenvolvido. País
rico, povo pobre é uma dosimetria explosiva. Mais do que isso. É uma
contradição intolerável.
Pra ajuda na
compreensão leiamos uma síntese do filósofo político Noberto
Bobbio sobre o tema. Diz ele que embora os dois lados realizem
reformas, uma diferença entre essas duas correntes seria que a
esquerda busca promover a justiça social enquanto a direita trabalha pela
liberdade individual.
E aí já é
possível começar a compreender o que é ser direita e o que é ser
esquerda? Se a resposta é positiva dentro do compreendido seria Jesus de Nazaré de
Direita o de esquerda?
Embora haja muitos estudos e textos sobre essa temática {esquerda X direita} conceituando esses dois espectros ideológicos sigo a corrente daqueles que percebem atualmente um certo anacronismo nessa discussão face a dificuldade de um enquadramento conceitual real principalmente ao se considerar o viés partidário. No País são mais de 30 partidos o que se pressupõe a existência de " diversos tipos de esquerda e de direita" o que reflete o aspecto complexo da sociedade brasileira bem como do pensamento político que certamente não se encerra nessa divisão binária de esquerda e direita.