4/09/2022

“SÍNDROME DO CABRA MACHO OU DA DAMA DE FERRO”

 

 

Originalmente publicado em 2016, mas muito atual

 

Há muito percebe-se, tanto aqui quanto lá fora, a carência de líderes num sentido extensivo da palavra. Conta-se nos dedos hoje no mundo quem consiga transcender o significado do que é ser líder- guia, chefe, aquele que tem a autoridade para comandar ou coordenar outros-  e encarne a figura de uma verdadeira liderança. O mundo sofre de “carência múltipla” de líderes, contudo a história revela que esse é um mal que não é novo.

 E de fato, não é de hoje que os povos da Terra se ressentem da falta de quem ultrapasse o mero conceito etimológico da palavra líder. O historiador, diplomata, filósofo e político italiano da época do Renascimento Nicolau Maquiavel, ao observar a sociedade e os conflitos daquele tempo, dizia que o “povo conspira para quem o protege”.

 Tal premissa, mesmo não sendo absoluta, guarda uma grande verdade: as pessoas tendem a apoiar, seguir, admirar e a amar, a quem julgam capaz de protegê-las, mesmo que seja uma aparente proteção, ou que depois se transforme numa decepção. 

 Quando se fala em liderança imagina-se logo que uma das missões do verdadeiro líder, além da fidelidade ao significado literal da palavra, seja, de estimular, motivar, alimentar, proteger e manter vivos os sonhos de quem lidera. Por não abrigar um rol taxativo, compreendo que a liderança não se estancaria nestes destacados predicados, ou em apenas no ato de comandar pessoas, uma cidade, um estado, ou uma nação. Para mim, um verdadeiro líder tem de fazer valer a pena a liderança exercida.

 Os estudiosos do comportamento humano talvez possam explicar melhor o porquê de o ser humano viver sempre em busca de proteção.  Pode ser que tal necessidade seja verificada, com mais ou menos intensidade, em alguns, mas o fato é que esse sentimento, o de se sentir protegido, é encontrado tanto na sua variável individual, quanto na coletiva, o que faria surgir uma “anomalia social”    que ousaria chamar de “síndrome do cabra macho”, ou numa versão feminina de “síndrome da dama de ferro” que, nesse caso, definiria como a necessidade mórbida/inata/inconsciente de uma pessoa, ou de um povo se sentir protegido.

 Tal síndrome, ao atrair o assunto para a questão política eleitoral, talvez explique o sucesso de figuras públicas de verbo fácil, com doses de coragem e um pouco de carisma, que acabam por alçar posições importantes de comando principalmente em “tempos de crise”. Aqui no Brasil Getúlio Vargas se encarnaria nesse estereótipo.  Ao liderar, como civil, a revolução de 1930 que pôs a termo a República Velha, Vargas ajudou a tirar o poder o então presidente Washington Luís e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. Acabou sendo presidente do Brasil em dois períodos, o primeiro por 15 anos ininterruptos.  

 Nos dias de hoje o ex-presidente Lula também se aproveitou dessa “síndrome do cabra macho” e, assim como Vargas, com as devidas e notórias observações, ao adequar o discurso ao sentimento que na ocasião ocupava a mente da maioria do eleitor brasileiro, administrou o País por dois mandatos e ainda elegeu como sucessor quem ele quis.

 Sem querer ir mais fundo na questão a “síndrome do cabra macho ou da dama de ferro”, não resta dúvida, que fica mais evidente durantes as crises, ou seja, quando a população sente que o poder estabelecido em parte ou no todo, não consegue mais responder aos anseios mais elementares da sociedade.  Quando essa “ fratura no contrato social” acontece, surge um campo fértil para o “florescimento do verbo fácil, das frases feitas e de efeito; da coragem, do carisma”, muitas das vezes ensaiados ou dirigidos por especialistas em marketing e que uma vez encarnados são capazes de seduzir milhões de pessoas, como aconteceu na nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos, cujo presidente eleito também, pelo visto, foi beneficiado pela “síndrome do cabra macho”.

 Por fim, diria que liderar é fazer o, ou os outros, acreditarem que são capazes e que é possível mudar o mundo para melhor; tarefa para os verdadeiros líderes.


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