Originalmente publicado em
2016, mas muito atual
Há muito percebe-se, tanto aqui
quanto lá fora, a carência de líderes num sentido extensivo da palavra.
Conta-se nos dedos hoje no mundo quem consiga transcender o significado do que
é ser líder- guia, chefe, aquele que tem
a autoridade para comandar ou coordenar outros- e encarne a figura de uma verdadeira liderança.
O mundo sofre de “carência múltipla” de líderes, contudo a história revela que
esse é um mal que não é novo.
E de fato, não é de hoje que os povos da Terra se ressentem da falta de
quem ultrapasse o mero conceito etimológico da palavra líder. O historiador,
diplomata, filósofo e político italiano da época do Renascimento Nicolau Maquiavel,
ao observar a sociedade e os conflitos daquele tempo, dizia que o “povo
conspira para quem o protege”.
Tal premissa, mesmo não sendo absoluta, guarda uma
grande verdade: as pessoas tendem a
apoiar, seguir, admirar e a amar, a quem julgam capaz de protegê-las, mesmo que
seja uma aparente proteção, ou que depois se transforme numa
decepção.
Quando se fala em liderança
imagina-se logo que uma das missões do verdadeiro líder, além da fidelidade ao
significado literal da palavra, seja, de estimular, motivar, alimentar,
proteger e manter vivos os sonhos de quem lidera. Por não abrigar um rol
taxativo, compreendo que a liderança não se estancaria nestes destacados
predicados, ou em apenas no ato de comandar pessoas, uma cidade, um estado, ou
uma nação. Para mim, um verdadeiro líder tem de fazer valer a pena a liderança
exercida.
Os estudiosos do comportamento humano
talvez possam explicar melhor o porquê de o ser humano viver sempre em busca de
proteção. Pode ser que tal necessidade seja verificada, com mais ou menos
intensidade, em alguns, mas o fato é que esse sentimento, o de se sentir protegido,
é encontrado tanto na sua variável individual,
quanto na coletiva, o que faria surgir uma “anomalia social”
que ousaria chamar de “síndrome do cabra macho”, ou numa
versão feminina de “síndrome da dama de
ferro” que, nesse caso, definiria como a necessidade mórbida/inata/inconsciente
de uma pessoa, ou de um povo se sentir protegido.
Tal síndrome, ao atrair o assunto
para a questão política eleitoral, talvez explique o sucesso de figuras
públicas de verbo fácil, com doses de coragem e um pouco de carisma, que acabam
por alçar posições importantes de comando principalmente em “tempos de crise”.
Aqui no Brasil Getúlio Vargas se encarnaria nesse estereótipo. Ao
liderar, como civil, a revolução de 1930 que pôs a termo a República Velha, Vargas
ajudou a tirar o poder o então presidente Washington Luís e impediu a posse do
presidente eleito Júlio Prestes. Acabou sendo presidente do Brasil em dois períodos,
o primeiro por 15 anos ininterruptos.
Nos dias de hoje o ex-presidente Lula
também se aproveitou dessa “síndrome do cabra macho” e, assim como Vargas, com
as devidas e notórias observações, ao adequar o discurso ao sentimento que
na ocasião ocupava a mente da maioria do eleitor brasileiro, administrou o País
por dois mandatos e ainda elegeu como sucessor quem ele quis.
Sem querer ir mais fundo na questão a
“síndrome do cabra macho ou da dama de ferro”, não resta dúvida, que fica
mais evidente durantes as crises, ou seja, quando a população sente que o
poder estabelecido em parte ou no todo, não consegue mais responder aos anseios
mais elementares da sociedade. Quando essa “ fratura no contrato social” acontece,
surge um campo fértil para o “florescimento do verbo fácil, das frases
feitas e de efeito; da coragem, do carisma”, muitas das vezes ensaiados ou
dirigidos por especialistas em marketing e que uma vez encarnados são capazes de
seduzir milhões de pessoas, como aconteceu na nação mais poderosa do mundo, os
Estados Unidos, cujo presidente eleito também, pelo visto, foi beneficiado
pela “síndrome do cabra macho”.
Por fim, diria que liderar
é fazer o, ou os outros, acreditarem que são capazes e que é possível mudar o
mundo para melhor; tarefa para os verdadeiros líderes.