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Professor José Geraldo, MESTRE JOÃO, Elson Araújo |
(Uma homenagem ao nosso "Mestre João")
Um psicólogo americano, não recordo o nome agora, teria dito em uma de
suas obras que “a maior ânsia do ser
humano é a vontade de ser reconhecido”. Ao raciocinar sobre essa observação, que
certamente não deve ter sido dita à toa, percebo que essa é uma verdade inquestionável. Por “mais soberano ou mais simplória que a
pessoa seja lá no íntimo ela deseja ser reconhecida por aquilo que faz ou pela
sua trajetória de vida. Avalio ser esse dispositivo das relações humanas um dos
importantes ingredientes do “ cardápio que alimenta a alma” e fortalece o viver
em sociedade.
Na pluralidade do “ ser humano” acumula-se inúmeras competências. Ouso dizer que até os loucos no seu mundo particular costumam ser
competentes em algumas das coisas que fazem. Há loucos que cantam, pintam ,
dançam e falam muito bem - melhor até que muitos que se apresentam com um juízo perfeito - . Se os loucos, num lampejo
de lucidez sentem-se felizes quando distinguidos - seja com um aplauso, um
sorriso, um mimo ou outro gesto qualquer - imagine os
potencialmente conscientes ?
Dito isto, é com total capacidade de
consciência que na coluna deste
domingo ressalto a figura
de um cidadão simples no andar, no falar no seu, SER diário presente há 55 anos no Maranhão; 35 deles
só em Imperatriz . Embora não
seja “ filho legítimo” ou seja, não
tenha nascido nas barrancas do Rio
Tocantins, há muito esse artífice da arte de fabricar e recuperar sapatos se incorporou ao
quotidiano da cidade não só pela sua arte, tão bem executada, mas
pelo “ emblema” que se tornou
quando o assunto reside na articulação, visão e conselhos políticos, e não políticos enfim, dicas
sábias de quem já acumula “ algumas
dezenas de janeiros”.
Com uma educação nata, um português
impecável, segundo ele, apreendido pelo hábito da leitura e no meio em que
sempre viveu, o nosso admirável João Alves Peixoto o popular “ Mestre João”, que
se escolarizou somente até 6ª série,
costuma ensinar que é “ conversando que a gente aprende e que o ser humano de fato é produto
do meio” .
O Mestre João mora numa humilde
residência na Rua Luís Domingues, entre as Ruas Pará e Maranhão, local onde
mantém aberta sua oficina. Pelo ofício com o qual se mantém há anos é
grande, principalmente agora em período de crise, o número de clientes seja
para “colar o sapato, pôr uma fivela na sandália importada ou, mesmo recuperar a mochila escolar já carcomida
pela ação do tempo mas que nas mãos do mestre pode durar mais um “cadinho” de tempo.
A Oficina do Mestre João não é conhecida
apenas pelos “milagres” que realiza na recuperação dos artefatos de couro ou sintéticos, o lugar é famoso também por receber do aspirante à vida
pública, até o mais experiente político; do mais simples operário à maior
autoridade do Estado como o ex-governador Jackson Lago, de quem o Mestre era amigo desde o tempo em que ambos
moravam em Bacabal. “Recebi também muito
aqui em casa o hoje prefeito Madeira quando ele era deputado, um amigo de
longas datas” revela.
Ao ser questionado sobre essa
capacidade de atrair tanta gente para as
chamadas resenhas ou mesmo para um simples aconselhamento o mestre respondeu: “
talvez seja uma espécie de missão. Todos nós temos um chamado. Talvez seja
esse, o meu”
Assim é o Mestre João, casado há 45 anos com a dona Maria Édina. Um
cearense nascido no Juazeiro em Junho de 1934, que cansado
de ser maltratado por sua família originária, aos nove anos de idade fugiu de casa para não mais voltar e que se
apaixonou pelo Maranhão e mais ainda pela cidade de Imperatriz.
“Sou
fugido até hoje”, filosofa ele calmamente enquanto recupera o solado de
um sapato sob o olhar curioso de mais um cliente que acabara de chegar com uma
mochila sem o fecho.