Elson Araújo
A falta de água potável em Imperatriz é um exercício para o futuro.
Certo é que esses dias de angústia ocorrem por falha humana e que o
problema , por ser pontual, caminha para
ser resolvido. Certo é, também, que
a concessionária hoje não tem expertise
para agir com rapidez em situações
emergenciais como a deflagrada no início
desta semana, e que a mesma precisa ser modernizada
urgentemente, mas esse episódio pode ser
interpretado como um chamado para a população para o cuidado com as “nossas
águas”. Hoje lamentamos, esbravejamos por conta de uma falha, digamos humana/mecânica, amanhã poderemos chorar pela
escassez/racionamento do produto , e mais radicalmente pelo fim dos nossos
aquíferos, aí a coisa vai pegar.
Não são de hoje os
sinais que apontam que no futuro vamos enfrentar graves problemas de
abastecimento de água aqui no nosso quintal. Fato que existem situações, como o
aquecimento global, que terminam por afetar toda a climatologia do
planeta, mas isoladamente um conjunto de ações vem sendo protagonizada ao longo
dos anos e destruindo e “minando” essa fonte de sobrevivência na nossa Imperatriz.
Fundada às margens do segundo maior rio
brasileiro a cidade de Imperatriz é cortada
por pelo menos oitos riachos que hoje vivem dias de agonia. Chegam ao Tocantins quase mortos. Com a expansão urbana , a falta de visão de futuro do poder público e de
consciência ambiental de parte da população
tais mananciais foram transformados em
canais de esgoto in natura. As águas do
Bacuri, do Santa Tereza, Riacho do Meio,
Capivara e Cacau, os mais conhecidos, hoje não servem mais para o banho da meninada.
Também não tem mais espaço para “o tucanaré, e o piau;
e o matagal que os margeava igualmente
desapareceu. No máximo o jacaré,
ou aqui e acolá, um bodó, ainda são vistos.
As fontinhas, ou cacimbas que se
acumulavam ao longo das margens do Tocantins frequentemente lembradas pelos nossos poetas,
já sumiram faz tempo. São só lembranças, nada mais. Foram sepultadas, senão pela ocupação
desordenada das margens do Rio, pela devastação da vegetação ciliar.
As fontinha sumiram, os riachos estão
quase mortos, agora, numa linguagem moderna,
é a vez do Rio Tocantins que em 2016,
com reflexos ainda 2017, viveu uma das piores secas da história, só comparada
pelos moradores mais antigos a uma
ocorrida nos anos 1960. O diferencial de
hoje é que além do clima, outros fatores
têm contribuído para a situação do rio
chegar aonde chegou.
O rio sofre diariamente com o despejo
sem tratamento do esgoto das cidades que o margeia, com a destruição da vegetação ciliar; com a poluição ,e em algumas situações o represamento criminoso
e o desmatamento das margens de seus
afluentes, e ainda, não se pode desprezar, a construção de hidrelétricas. Estratégicas para a geração de energia
limpa, mas admitam ou não o capital,
danosas ao meio ambiente.
Como sujeitos desse processo o que nos
resta?
Ficar, como diz o velho Raul, com a “boca
escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar, ou exercitar nossa
cidadania e gritar para todo mundo ouvir que precisamos individual ou coletivamente proteger nossas fontes de sobrevivência para preservar
a nossa e, a vida das futuras gerações?