May sofre a maior derrota de um premiê britânico em um século
DO MEIO
A política britânica entrou em
caos, ontem, quando a premiê Theresa May sofreu a maior derrota jamais imposta a um primeiro-ministro
na Câmara dos Comuns em tempos modernos. Foram 432 votos contra seu plano
para condução do Brexit, e 202 a favor.
May esperava criar uma alfândega
sem tarifas de importação com a União Europeia na Irlanda, facilitando
assim a manutenção de uma fronteira aberta com a Irlanda do Norte, e
oferecendo uma saída para empresas que precisam da relação com a UE e
queiram permanecer no Reino Unido. A última vez em que um governo sofrera
uma derrota deste porte — e foi menor — ocorreu em 1924. Dado o descompasso
da premiê com o resto dos parlamentares, entra em pauta hoje o voto de desconfiança contra o gabinete pedido pelo
líder da oposição, Jeremy Corbyn. Corbyn, que levou o Partido Trabalhista
para além da centro-esquerda, afastando-se da tradição liberal inaugurada
por Tony Blair, por enquanto não tem apoio o suficiente para conseguir.
O voto provavelmente forçaria a
convocação de novas eleições. Mas May enfrenta também uma pesada oposição
interna, em seu próprio Partido Conservador, onde a direita espera um
Brexit mais rígido. Ela pode ir à União Europeia tentar costurar um novo
acordo, mas as chances são pequenas. Tampouco é pequeno o número de
parlamentares, em ambos os partidos, que gostaria de convocar um novo
plebiscito, pedindo que o povo britânico confirme o desejo de deixar a
União. Tudo pode acontecer, mas há um prazo: em 29 de março, o Reino Unido
deixará a União Europeia. Se não houver acordo, será o fim abrupto e
absoluto da relação.