“O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O
que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem (RUBEM ALVES)”
(Elson
Araújo)
Nunca pensar diferente e
externar o pensar foi cercado de tanta “patrulha”. Tal patrulhamento, com viés
ideológico ou não, tem resultado numa perigosa “avenida de intolerância e ódio”
que hoje se constitui numa ameaça não só à paz mundial mas à sanidade das
pessoas.
No mundo o clima de
intolerância e de ódio só se agrava, vide o recente atentado contra os cristãos
do Sri Lanka. Foram mais de 300 mortes, segundo as agências de notícias.
Contaminado pelo mesmo vírus o
Brasil caminha para uma verdadeira Babel. Ninguém se entende. Há uma guerra
declarada contra o pensar livre no País e, por conta disso, corre-se o risco de
um “apagão” na circulação do conhecimento e de ideias. A comunicação só flui
até o momento em que há alguma convergência de pensamentos.
O fato é que pensar e dar voz
a este fica a cada dia mais perigoso. Só
não é perigoso quando tal exercício ocorre, como já mencionado, na “ zona de
conforto” dos seus, com direito apenas a teses.
Nada de sínteses ou antíteses.
Ideias ou pensamentos outsiders não são bem-vindos.
O ato de divergir, opinar e
pensar diferente logo vira confusão. Ainda bem que no País ainda não houve nenhum
atentado da dimensão do Sri Lanka mas, diariamente, já se percebe - nas
trincheiras das redes sociais – um clima permanente de beligerância entre as
várias correntes de pensamento e opiniões.
Estaríamos vivendo o fim do contraditório?
Trata-se de uma situação
gravíssima uma vez que quando todo mundo acha que tem razão, e que a verdade
verdadeira é a sua, a barreira do respeito e da tolerância tende a desaparecer
e assim nasce o ódio mútuo, e o caos se estabelece. Aos olhos de todos uma
crescente contradição: o mundo evolui tecnologicamente ao passo que o ser
humano entra num processo contínuo de involução nas suas relações sociais.
Sobre o avanço dos discursos
de ódio, hoje amplificado pelas redes sociais, a romancista, ensaísta e
roteirista polonesa Olga Tokarczuk, em recente
artigo sobre a realidade atual do seu
País, asseverou um ponto de vista que também reflete o que ocorre hoje no Planeta. Segundo
ela “ Em uma sociedade sadia e normal as pessoas podem
discordar, podem até ter pontos de vista diametralmente opostas, e isso não
significa de maneira alguma que precisem odiar umas às outras. Mas as
autoridades fizeram da divisão dos poloneses sua tarefa primordial”
Na Polônia o discurso de ódio ganhou tanta força
que em Janeiro deste ano o prefeito de Gdansk, Pawel Adamowicz –de orientação
humanista– foi assassinado por um extremista diante das câmeras de TV. O crime
foi transmitido ao vivo no horário nobre sob o olhar de milhões de pessoas
deixando o País e o mundo chocados.
Foi na Polônia, mas poderia ocorrer no Brasil ou
qualquer outra nação, onde o discurso de ódio e da intolerância vem se tornando uma regra.
A graça do ser humano reside no fato de, independentemente
de qualquer provocação acadêmica, ser chamado a pensar, a refletir seus mundos
e suas vivências a partir dos elementos
que conseguem apreender com a observação daquilo que direta ou indiretamente o
afeta, não só individual mas coletivamente.
Como reflete o educador, escritor, psicanalista e filósofo Rubem Alves logo no início do texto “O que faz
um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os
pensamentos daqueles que o compõem”. E se
navegar é preciso, como diria o famoso poeta português Fernando Pessoa, pensar também
é. Sem o pensamento crítico, sem o
debate de ideias, sem o contraditório, o barco tende a se perder ou afundar sem que ninguém se salve
Reagir a isso aí, é preciso!!