ElsonMAraujo
Imperatriz, cidade pulsante
entre os ecos do nordeste e os sussurros da Amazônia Legal, necessita
urgentemente reconciliar-se com sua história. Não que haja guerra, mas uma
negligência silenciosa, uma desídia que aos poucos vai apagando traços de um
passado rico. A história dessa cidade vibra nas águas do Rio Tocantins, nos
vestígios da cobertura florestal que ainda resiste, nos artefatos arqueológicos
milenares diligentemente coletados pelo incansável professor Luís Pereira Santiago.
Pulsa também no que resta do cerrado, nas corredeiras dos riachos quase mortos,
nas nascentes sufocadas pelas construções.
Os caminhos de Imperatriz são
sagrados, permeados pelas memórias de setentões, oitentões, nonagenários e uns poucos centenários que aqui
nasceram e permanecem para contar as histórias de uma cidade que viu crescer e
se transformar.
É confortante saber que, ao
longo das décadas, sempre houve aqueles que se empenharam em manter viva a
memória de nossa gente e nossos feitos. A professora Carlota Carvalho, em seu
brilhante "O Sertão, subsídio para a história e a geografia do
Brasil", dedicou algumas linhas à então Vila Nova da Santa Teresa
da Imperatriz. Sousa Lima, o primeiro filho da terra a escrever um livro, nos
presenteou com o romance indigenista "O Tupinambá".
Embora ficção, a obra nos permite viajar pela geografia da região do final do
século XIX e início do século XX
Edelvira Marques, nossa
historiadora mater, trouxe-nos "Eu, Imperatriz", o
primeiro livro publicado na cidade, uma fonte primária que narra os primórdios
de uma Imperatriz pujante, que no dia 17 de julho completará 172 anos de
fundação.
Muitas outras obras de cunho
histórico vieram depois, cada uma recolhendo fragmentos do nosso passado. Um
salve a Adalberto Franklin, Edmilson Sanches, José Herênio, Domingos Cezar e
Ribamar Silva, este último autor de um importante obra sobre a história
política da cidade, tendo como fonte a Câmara Municipal de Imperatriz que será
lançada antes do final do ano.
Ainda há muito a ser
resgatado, catalogado e perpetuado para as futuras gerações. Percebo um enorme
abismo histórico na alma da cidade, e, nesse aspecto, a Academia Imperatrizense
de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico desempenham papel crucial, ajudando
a resgatar preciosas pílulas da nossa história perdida.
E ao mudar de assunto, e
permanecer no mesmo. Nas médias e grandes cidades, é comum a população
vivenciar um processo natural de imersão histórica diante de monumentos que
remetem a fatos significativos. Em Imperatriz, temos um centro histórico
inexistente, erroneamente chamado de "cidade velha". São ruas e
construções como a Igreja Matriz de Santa Teresa, a Escola Santa Teresinha, o
Colégio Governador Archer, o antigo convento onde hoje funciona a APAC, a Casa
da Criança, a Academia Imperatrizense de Letras, o Mercado e a Igrejinha do Bom
Jesus. Este conjunto urbano guarda a memória do pouco que ainda resta de nossa
história.
Defendo que, dentro dos
limites que a legislação permita, formalizemos o Centro Histórico de
Imperatriz com o que ainda subsiste.
Na semana passada, o
governador do Maranhão, Carlos Brandão, sugeriu a possibilidade de presentear a
cidade com seu Marco Zero, uma bandeira levantada pelo acadêmico José
Herênio e que chegou à Câmara Municipal por meio do vereador Ademar Freitas
Júnior.
Herênio, aos 97 anos, com uma lucidez extraordinária, é
autor de "Imperatriz, uma vovozinha de cem anos", onde ele, entre
outras revelações históricas vividas faz
alusão à data perdida da cidade, a da emancipação política, ocorrida em abril
de 1994. Ele aponta a Praça da Meteorologia (UNIMED) como o Marco Zero da
cidade, o ponto de partida da primeira rua e das primeiras casas.
O Marco Zero pode ser a centelha para que a cidade conceba o tão necessário
Centro Histórico de Imperatriz, um marco para o resgate e a preservação de sua
rica e vibrante história.