Em algum lugar desse Planeta
há sempre alguém a falar, compor, cantar ou escrever sobre o tempo que tantas marcas deixam
nas nossas vidas. Desafio hercúleo esse, o de tentar decifrá-lo, entendê-lo ou conceitua-lo.
O tempo não para, como cantava Cazuza que dizia ver o futuro repetir o passado.
Alguns vivem e aproveitam
bem os tempos do tempo; outros, com pressa, os enfrentam os desafiam como bem traduz o poeta/cantor Lulu Santos em Tempos
Modernos.
Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir.
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir.
No bojo desse se permitir apressado vêm as quedas as decepções. Lulu Santos tem
razão quando canta que não há tempo que
volte, mas peço licença para
discordar quando diz que o tempo voa. Na verdade, ao se
raciocinar sobre o tempo, chega-se à conclusão de que não existe essa dele passar
rápido ou voar como apreendemos desde cedo. Ora, o tempo segue no seu ritmo sem
presa nenhuma, no seu curso natural. Nós, enquanto humanos, é que insistimos em
atropela-lo.
Como me fez lembrar o jornalista
Carlos Gaby, Caetano Veloso cantando o
tempo em Oração ao Tempo, preferiu
propor-lhe um acordo a ter de enfrenta-lo.
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo.
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo...
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo.
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo...
Que
sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
No som do meu estribilho
O tempo merece
respeito e o próprio Lulu Santos, citado no início do texto, reconhece isso na
sua clássica Como uma onda.
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo.
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo.
Importante ficar atento às
mudanças impostas pelo tempo e se adequar a ele seguindo-o ali, lado a lado para
não cair, ou se deixar enganar, como alerta Thedy
Correa em Sobre o
Tempo, música do repertório da Banda
Nenhum de Nós.
O passado está escrito
Nas colunas de um edifício
Ou na geleira
Onde um mamute foi morrer
O tempo engana aqueles que pensam
Que sabem demais que juram que pensam
Nas colunas de um edifício
Ou na geleira
Onde um mamute foi morrer
O tempo engana aqueles que pensam
Que sabem demais que juram que pensam
Santo, às vezes diabo, o
tempo está na linha paralela das nossas vidas. O danado sara,
mas também provoca ferida. Dizem
até que o tempo “é o senhor da razão”, crescemos ouvindo isso, e assim seguimos tentando aprender a esperar “dando um tempo ao tempo” que alheio a tudo segue seu curso e com a
certeza de que cada segundo nunca é mais, sempre é menos.
Diante do mais ser sempre
menos, às vezes, bate uma angustia; aí vem a vontade renovada de correr e atropelar
tudo o que vem pela frente, e aí aparece um freio natural: a necessidade
permanente de se aprender a domar,
controlar o tempo, e usá-lo a nosso favor.
Quando nos atemos a pelo
menos tentar entender, e compreender o ritmo do elemento tempo,
chegamos à conclusão, imortalizada pelo compositor Almir Sater
em Ando Devagar:
Ando devagar porque já tive
pressa,
E levo esse sorriso, porque já chorei demais,
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou
Nada sei, conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz
Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir.
E levo esse sorriso, porque já chorei demais,
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou
Nada sei, conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz
Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir.
Penso que cumprir a vida,
seja simplesmente compreender a marcha, ir tocando em frente, como um velho
boiadeiro, levando a boiada. Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou,
estrada eu sou.
Uma certeza aparece
cristalina na frente dos nossos apressados olhos: o tempo corrói e destrói, mas
também constrói templos onde vivemos ou matamos o amor.
O tempo segue forte, na sua
calha, deixando marcas, deixando lições, ensinando, como já observava o sábio
Salomão lá no seu Eclesiastes que
debaixo do Céu há momento para tudo e tempo para cada coisa.