Filho de pescador,
sempre fui ribeirinho desde que nasci. Desta forma cresci vendo o comportamento
das águas, tanto do rio Araguaia, Itacaiunas e Tocantins, grandes rios da bacia
amazônica, que já foram o caminho dos grandes barcos levando pessoas, animais,
mercadorias, levando sonhos e aspirações de nossa gente.
Desembarquei com minha família, em Imperatriz, no
longínquo dezembro de 1963, quando era muito pequena, composta apenas de poucas
ruas e travessas, próximas ao rio Tocantins. A cidade naquela época, contava
com um porto bastante movimentado pelo vai-e-vem dos motores (barcos)
transportando pessoas e mercadorias.
Acompanhava sempre meu pai nas pescarias, razão porque
ouvia sempre pescadores e ribeirinhos mais antigos comentarem da grande
enchente do ano de 1926, a qual, segundo eles, praticamente tragou a cidade que
dava seus primeiros passos. “Uma enchente como nunca mais aconteceu”, lembrava
sempre um velho amigo de meu pai.
Em 1980, já adulto, à época bancário e professor, mas
continuando ribeirinho, pude acompanhar outra enchente que, acredito eu, se
assemelhou a enchente de 1926. Grande parte da cidade foi alagada pelas águas
do rio Tocantins que atingiu cerca de 17m acima do nível normal e ameaçou subir
a Rua Dom Pedro II, aonde residia à época.
Desde 1980, nunca mais se viu enchente igual, e elas
(enchentes) praticamente cessaram depois da construção da barragem da
Hidrelétrica de Estreito. Comento tudo isso, para afirmar ao leitor que a
enchente ocorrida em Imperatriz no último final se semana é algo incomum,
inusitado, mas que pode ocorrer em decorrências das fortes chuvas.
A enchente foi inundada – literalmente – por um burburinho
de opiniões diversas: várias pessoas culpam o poder público municipal pela
ocorrência, outras – estas em maioria - acusam as pessoas que de maneira
deselegante e deseducada, jogam lixo na rua, resíduo este que é transportado
pelas correntezas das águas para dentro dos riachos e direto para o rio
Tocantins.
Mas existem as mais intransigentes: são as que sem nenhum
pudor ou vergonha jogam móveis velhos, animais mortos, e toda espécie de lixo
no leito dos riachos. Também existem em Imperatriz, pessoas que, ao arrepio da
lei, constroem suas residências nas margens e até mesmo dos riachos que cortam
esta cidade que ora se encontra em pleno desenvolvimento.
Agindo dessa forma, não tem como os riachos não
(assorearem) entupirem seus leitos impedindo a passagem das águas que
transbordam causando as alagações. Das dezenas de opiniões nas redes sociais,
cito apenas da moradora Ivaneila Bandeira, a qual, com muita convicção afirma:
“As pessoas só sabem exigir dos governantes, parar de jogar lixo nas ruas,
ninguém se lembra”.
Para finalizar, não posso deixar de citar a atitude
honrosa, sábia e humana do prefeito Sebastião Madeira em solicitar da Câmara
Municipal de São Luis, o adiamento da sessão solene que o homenagearia, na
última segunda-feira (17), com o título honorífico de Cidadão Ludovicence, para
ficar em Imperatriz ao lado de seu povo, acompanhando as ações de todos os
órgãos da prefeitura que estão empenhados em reconstruir a cidade que ficou
devastada pelas chuvas.
Domingos
Cezar, jornalista, ambientalista, membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente
(COMMAM)