Santiago Andrade, cinegrafista. Foto: Arquivo Pessoal
A tragédia do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade não foi somente pessoal nem inesperada. O rojão que o assassinou também violentou o direito de toda a sociedade ser informada e demonstrou, mais uma vez, a total vulnerabilidade de jornalistas que cobrem nas ruas os fatos que desde 2013 vem redesenhando dramaticamente o cenário político no Brasil.
Igualmente, o drama
de Santiago coloca uma enorme interrogação sobre a vontade e a capacidade de
empresas de comunicação e autoridades públicas garantirem a segurança de
repórteres que trabalharão durante este ano inteiro de manifestações.
Já nos protestos de
2013, dezenas de jornalistas foram agredidos (em São Paulo, um perdeu o olho).
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo estima que 114 profissionais
sofreram violências no País. O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de
Janeiro tem outra metodologia de cálculo e chega a um número ainda
Somente nesta
cidade, 49 profissionais de imprensa foram atingidos por balas de borracha,
cassetadas, pedradas, tapas, socos e ameaças de todos os tipos, vindas dos dois
lados do confronto, o que já configura impacto sistêmico e particular contra
uma categoria que vai às manifestações para exercer sua profissão.
Todos a quem cabe
responsabilidade em evitar essas violências, e também são responsáveis em maior
ou menor grau pela morte de Santiago, há muito possuem conhecimento do que já
aconteceu e do que está por vir. Essas responsabilidades vão além, inclusive,
do assassino direto do cinegrafista e é necessário que todos finalmente evitem
que outras mortes se consumam.
A TV Bandeirantes
precisa assumir a responsabilidade por ter enviado seu funcionário à linha de
frente da manifestação dando-lhe como equipamento de proteção e identificação
apenas um crachá. E, se lhe deu o equipamento adequado e Santiago não o
utilizou, sua culpa continua, porque a empresa precisava tê-lo impedido de
trabalhar.
Afinal, há muito o estado de guerra
no Brasil mata tanto quanto conflitos convencionais e exige garantia de
segurança a jornalistas do front da notícia. Tanto é que, ao
socorrer Santiago, usavam capacetes os dois repórteres da BBC – emissora de
larguíssima experiência na cobertura de todo tipo de conflito no mundo inteiro.
Enorme
responsabilidade também tem o Secretário Estadual de Segurança Beltrame, que
desde novembro passado foi procurado pelo sindicato para estudar como garantir
a segurança dos jornalistas, mas desde então se omite. Finge desconhecer que
jornalistas nestas situações precisam ter garantidos direitos como cidadãos,
como trabalhadores e como operadores do direito de a sociedade se informar –
este elemento fundamental para o exercício da própria democracia. Mas, a esta
altura, é o caso de perguntar: alguém liga para a democracia?
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais
Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.