O Globo
Se grupos radicais
buscavam um cadáver nas manifestações de rua, conseguiram. Mas não foi o que
poderiam imaginar. Em vez de jogar mais combustível na ferocidade do vandalismo
em cima do corpo de um manifestante, mataram um repórter-cinegrafista no
exercício de uma atividade essencial para a democracia, relatar os fatos para a
sociedade. Atingiram a própria democracia, que tanto desprezam.
A morte de Santiago
Andrade tem de servir, ao menos, para uma intensa e profunda reflexão sobre
distorções escondidas nos subterrâneos de militâncias expostas em perfis falsos
nas redes sociais que difamam pela internet, em sindicatos de jornalistas
aparelhados e desconectados da profissão, em universidades transformadas em
centros de doutrinação política, em funções desvirtuadas em assessorias de
partidos políticos — para citar os pontos de intoxicação ideológica autoritária
mais visíveis.
O secretário de
Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, propõe
alterações na legislação para melhor tipificar e, portanto, punir, manifestantes
delinquentes. Boa sugestão. Mas o importante agora é ampliar o debate sobre o
que está por trás da morte de Santiago, além de processar e punir seus
responsáveis diretos e indiretos.
Não se pode perder
esta oportunidade, até mesmo em homenagem a ele. Entender e expor o que se
passa é a única maneira de se começar a agir para prevenir outras tragédias. O
crime jogou luz sobre a inaceitável atuação do gabinete do deputado estadual
Marcelo Freixo (PSOL) em defesa de vândalos. Ele e partido precisam explicar a
função dupla de Thiago de Souza Melo, assessor do deputado, pago, portanto,
pelo contribuinte, e, ao mesmo tempo, advogado de black-bloc e similares.