Sentir
medo é uma das peculiaridades do ser humano. E medo não é no todo ruim,
pois ele pode nos livrar de muitos infortúnios. Assim como o veneno, na dose
certa, pode salvar ou matar. Neste momento, em Imperatriz, o medo é um fator
dominante e negativo por conta da onda de insegurança e violência que sacode a cidade;
onda porque não é a primeira vez que isso acontece, e certamente não será a
ultima.
Aprender a conviver, e a usar a nosso favor, as
diversas variáveis do medo é uma tarefa complicada, porém necessária
principalmente na atualidade em que a todo o momento somos submetidos a
interferências externas que nos obrigam a uma situação de alerta permanente. Não
há como fugir do fato de que se trata de mais um item de aprendizagem a ser
incluído no portfólio do nosso “manual de sobrevivência urbana, ou melhor,
humana”.
É em estado de alerta e medo permanente que nos últimos dias os
imperatrizenses têm potencializado de forma real ou imaginária, esse clima de
violência nas redes sociais. A informação, verdadeira ou não, circula numa
velocidade nunca antes vista neste País. Em questão
de segundos textos e fotos de corpos crivados de balas, vídeos de bandidos
em ação, quase em tempo real, são compartilhados com quem está ou não online.
A desgraça agora é mostrada em tempo real.
As imagens são apreendidas e armazenadas no disco rígido do nosso cérebro.
Os resultados desses bombardeios de informações negativas a curto, médio
e longo prazo são difíceis de precisar, pois o efeito é individualizado; no
entanto, já é possível dizer que o volume elevado
dessas informações, algumas falsas e superlativadas, provocam um clima de
medo e de histeria coletiva jamais vistos na cidade. O medo coletivo
começa a evoluir para sua forma mais estrema: o pavor.
Nas redes sociais por vezes o real e o imaginário, são dirimidos
com imagens e vídeos. Um amigo passou mal essa semana quando lhe exibiram no
aplicativo whatsapp o vídeo de um
homem amarrado sendo esfaqueado até a morte. Eu mesmo tentei assisti-lo,
mas parei logo no início e apaguei da minha rede. As imagens verdadeiras ou
falsas do homem em desespero, imobilizado
e sendo dilacerado a golpes contínuos de faca, vez por outra aparecem na
minha mente. A sensação é horrível. Tenho tentado varrê-las da mente, mas não
tem sido fácil. O vídeo continua, como um vírus, circulando por ai.
Estudos científicos já comprovaram que a intensidade do
real e do imaginário apreendido pelos sentidos e armazenados no
cérebro têm a mesma influência na mente do ser humano. Os efeitos de tudo
isso podem ser devastadores, dependendo da estrutura psicológica de
quem absorve essas imagens. Para ilustrar o que digo basta relembrar o
caso da mulher que, assustada com o estampido do que seria uma
arma de fogo durante um movimento grevista sofreu um
acidente vascular cerebral (AVC) e morreu a caminho do Hospital . Um indicativo de
que esse tipo de medo que ora toma conta da cidade e do País não nos faz nenhum
bem.
A divulgação maciça de crimes pela mídia estimula nos indivíduos o sentimento de medo coletivo que possui
como consequência a sensação constante de insegurança. Essa afirmação não é
minha, é de Patricia Bandeira de Melo,
socióloga e jornalista pela UFPE e pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos
Econômicos e Populacionais (CGEP) da Fundação Joaquim Nabuco. O estudo faz parte da sua tese de doutorado
“Histórias que a mídia conta: o discurso sobre o crime violento e o trauma
cultural do medo”
Diante do que os estudiosos já descobriram sobre a parte negativa do medo que pode
provocar diversos problemas de ordem
física e psicológica como aceleração cardíaca, tremores, depressão,
pânico etc, urge a adoção de
providências que garantam a segurança pública e o restabelecimento da paz em
Imperatriz.
Sobre
o medo, a psicóloga Rosemeire Zago em
recente artigo, disponível em www.vilamulher.com.br
escreveu que – “Todo mundo teme algo - assaltos, aviões, doenças, dentistas,
solidão, entre outras coisas. Claro que a intensidade do medo é intensificada
pelo histórico de vida de cada um. “Portanto, diante de nossos pavores, só nos
restam duas alternativas: lutar ou fugir”
No
caso de Imperatriz, a fuga só agravaria o problema. O caso é de
enfrentamento. Autoridades e sociedade precisam
dar as mãos e partir para o enfrentamento da situação.
No
entendimento de Rosimeire Zagoo a luta contra o medo torna-se uma reação
positiva quando existe uma situação de ameaça a vida, nesse caso, o medo não é uma reação patológica, mas de proteção
e autopreservação, como é o caso hoje de nós, povo de Imperatriz.