12/06/2017

Lá vai o trem com o minério


Por Roberto Rocha
Senador da República

Foi um maranhense, o poeta Ferreira Gullar, quem nos brindou com a linda letra das Bachianas brasileiras, composição de outro gênio, o maestro Villa Lobos. Nessa letra Gullar conta que lembrava da infância e da magia do trem da sua meninice, que cortava o Maranhão, de São Luis a Teresina. “Lá vai o trem com o menino, lá vai a vida a rodar”....

Outro maranhense de gênio e também poeta, João do Vale, cantou o trajeto do trem no sentido inverso, de Teresina a São Luis. “O trem danou-se naquelas brenhas; soltando brasa, comendo lenha”.

Como se vê, o trem faz parte dos nossos afetos mais profundos. Mas a vida rodou e a passagem da velha Maria Fumaça foi substituída por outras máquinas que não soltam brasa nem derramam poesia por onde passam. O trem do minério, com suas dezenas de vagões, atravessa o Maranhão com a nobre missão de gerar riquezas, mas deixa por onde passa, além do apito, um rastro de impacto ambiental.

Vinte e três municípios do Maranhão emprestam seu território para essa riqueza passar por cima. São hospedeiros, que praticamente nada recebem em troca. Essa realidade se arrasta há 32 anos, com os municípios pleiteando uma fatia maior na Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM, uma espécie de fundo compensatório, composto de um percentual obtido do aproveitamento econômico da exploração do recurso mineral, criado para auxiliar os municípios a mitigar os impactos ao meio ambiente.

 Na semana que passou essa realidade começou a mudar. O Senado aprovou emenda de minha autoria que redistribui os recursos provenientes da CFEM, destinando 60% para os Municípios produtores, 15% para os Estados, 10% para a União e 15% para Municípios que são corredores de escoamento.

Essa a grande novidade, que irá beneficiar, por exemplo,  Açailândia, , Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Cidelândia, Itinga do Maranhão , São Francisco do Brejão,  São Pedro da Água Branca, Vila Nova dos Martírios, na região tocantina.  Mas não apenas elas. Todas as cidades afetadas por operações de embarque e desembarque, ou ainda, onde se localizem pilhas de estéril, barragem de rejeitos e instalações de beneficiamento de minérios, passarão a receber esses recursos, proporcionalmente à população e à extensão do território cortado pela ferrovia.

Para mim, é uma questão de justiça. Para os prefeitos e prefeitas do Consórcio Intermunicipal Multimodal (CIM), é uma questão de sobrevivência financeira. Por isso estivemos essa semana com o presidente Michel Temer, em comitiva, para assegurar que essa medida não seja sabotada por interesses menores.


Lá vai o trem, levando o minério. E lá vai o menino, das nossas pobres cidades do interior, que mais do que ninguém merece “ciranda e destino”, como cantou o poeta.

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