3/08/2019

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: A GRANDE MÃE CHORA




O dia é de comemoração, mas também de reflexão. O mundo, poeticamente falando, é mais feminino do que masculino a começar pelo nome do  nosso planeta.  A Terra é uma  grande mãe que  certamente se conseguisse pronunciar algum signo verbal diria - “ filhinhos tenham juízo!  Parem com toda essa violência. Não estou nada feliz com alguns de vocês que espancam, estupram e estão matando minhas filhas. Meu coração está partido com tudo isso”.


Por que tanta violência contra a mulher ? Seria por inveja do seu papel {global} cada dia vanguardista ou, por não mais se sujeitar como antes à posição de subserviência?


É justo destacar que  a  luta das mulheres por igualdade, respeito;  contra a discriminação e todo tipo de violência , é milenar. Ao longo dos séculos muitas perderam a vida para que algumas conquistas estejam hoje presente no mundo ocidental sendo comemoradas. Esse histórico é de ser respeitado por todos.


Acompanha-se diariamente o anúncio das lutas das mulheres daqui desse lado do Planeta, e até no fechado oriente médio.  Quem ainda não ouviu a história da estudante paquistanesa Malala Yousafzai conhecida e reconhecida internacionalmente como ativista pelos direitos à educação e o direito das mulheres?  A luta por igualdade de gênero, mercado de trabalho, espaço político, respeito, e contra a discriminação, não é nova, tem sido intermitente.  


De fato, ao se debruçar os olhos sobre a história da luta da mulher veremos muitos avanços e que muita coisa mudou. Em se tratando de Brasil esses direitos conquistados acabaram positivados na Constituição e nas leis infraconstitucionais como a Lei Maria da Penha, a criação do tipo penal do feminicídio  e a mais recente lei contra a chamada “ importunação sexual”.


Fora a violência física e psicológica há um outro tipo de violência a que a mulher brasileira é submetida diariamente que inunda o inconsciente coletivo dos conceitos mais deprimentes sobre elas; conceitos esses decorrentes da indústria pornográfica da música constituindo-se num verdadeiro dano moral social aos olhos e ouvidos de todos.


Há quatro anos, para documentar, escrevi um artigo sobre o tema. De lá para cá a coisa fez foi  piorar.   

O caso é sério porque atinge profundamente a dignidade da pessoa humana, e o ruím  é que tudo é visto e ouvido passivamente; diferente de alguns  países da Europa  onde esse tipo de violência vai parar nos tribunais.


Não tenho dúvida de que um estudo bem aprimorado acabará por revelar que  os dejetos dessa indústria que correm todos dias pelas rádios do País apresentam algum grau de influência nessa nova onda de violência física contra a mulher que varre o Brasil.  


 A Constituição Federal Brasileira em pelo menos cinco incisos do famoso artigo 5, (IV, VI, VII, VIII e IX ) garante a  livre manifestação do pensamento,  que se tornou uma espécie de sacramento quando se fala de liberdade, mas  também  abriga ressalvas como interpreta  o constitucionalista e ministro do Supremo Tribunal Federal –STF  Alexandre de Moraes que  diz  que a liberdade de manifestação de pensamento não exime a possibilidade de apreciação pelo Poder Judiciário qualquer eventual responsabilização civil ou criminal.


Temos  visto nos últimos anos  “ hits”  que  expõe a mulher da pior maneira possível ser alçado ao topo das músicas mais  bem executadas  nas rádios do País. O que dizer desses versos do MC Pano   Abre as pernas e relaxa vem por cima e senta, senta senta... Ou deste outro funk: Vem amor,  bate, não para,  com o peru  na minha cara.  Bate, bate com o peru na minha cara.


Este é apenas um dos muitos exemplos O  sertanejo, além de sua vertente romântica e inocente, sempre apostou nesse tipo de composição degradante e duplo sentido.  A dupla Gino e Geno aparece com esta:

Eu Já Fui de Você


“Eu só fui de você, eu não fui de mais ninguém
Você me fez feliz e eu te fiz feliz também
Eu já fui de você, eu já fui de você
Meu amor eu não me esqueço que eu já fui de você”

E essa outra de Felipe e Falcão.

Monzão no Pau

Eu não entendo eu já lhe dei uno zero
Um picasso amarelo tá devendo na cidade
Tô com vergonha com os amigos pegou mal
Porque ela vive andando
Com o seu monzão no pau”

O que parece num primeiro momento  engraçado é como parte da indústria da música brasileira trabalha hoje a imagem da mulher:  é xingamento que não acaba mais, e o danado é que muitas ainda vibram, pulam dançam, num  tácito aceite das agressões.

Diante de tudo isso,  imagino a Mãe Terra derramando-se em lágrimas se perguntando “ onde foi que eu errei ? E ao mesmo tempo vertendo lágrimas de saudade do tempo em que a mulher brasileira era exaltada pelos compositores/poetas como  por exemplo Pinxinguinha  o autor de Rosa e Carinhoso

Em carinhoso  o compositor  se derrete todo.

Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz

Já em Rosas o compositor  aparece com esse poema:

Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu

Ao ouvir essas duas canções e viajar na letra do poeta a gente até sente saudades de um tempo não muito distante que a Mãe Terra viveu.

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