O dia é de comemoração, mas também de
reflexão. O mundo, poeticamente falando, é mais feminino do que masculino a
começar pelo nome do nosso planeta. A Terra é uma grande mãe que certamente se conseguisse pronunciar algum signo
verbal diria - “ filhinhos tenham juízo! Parem com toda essa violência. Não estou nada
feliz com alguns de vocês que espancam, estupram e estão matando minhas filhas.
Meu coração está partido com tudo isso”.
Por que tanta violência contra a
mulher ? Seria por inveja do seu papel {global} cada dia vanguardista ou, por
não mais se sujeitar como antes à posição de subserviência?
É justo destacar que a luta
das mulheres por igualdade, respeito; contra a discriminação e todo tipo de
violência , é milenar. Ao longo dos séculos muitas perderam a vida para que
algumas conquistas estejam hoje presente no mundo ocidental sendo comemoradas.
Esse histórico é de ser respeitado por todos.
Acompanha-se diariamente o anúncio
das lutas das mulheres daqui desse lado do Planeta, e até no fechado oriente
médio. Quem ainda não ouviu a história da estudante paquistanesa Malala Yousafzai
conhecida e reconhecida internacionalmente como ativista pelos direitos à
educação e o direito das mulheres? A luta por igualdade de gênero,
mercado de trabalho, espaço político, respeito, e contra a discriminação, não é
nova, tem sido intermitente.
De fato, ao se debruçar os olhos
sobre a história da luta da mulher veremos muitos avanços e que muita coisa
mudou. Em se tratando de Brasil esses direitos conquistados acabaram
positivados na Constituição e nas leis infraconstitucionais como a Lei Maria da
Penha, a criação do tipo penal do feminicídio e a mais recente lei contra a chamada “
importunação sexual”.
Fora a violência física e psicológica
há um outro tipo de violência a que a mulher brasileira é submetida diariamente
que inunda o inconsciente coletivo dos conceitos mais deprimentes sobre elas; conceitos esses decorrentes da indústria pornográfica da música constituindo-se
num verdadeiro dano moral social aos olhos e ouvidos de todos.
Há quatro anos, para documentar, escrevi um
artigo sobre o tema. De lá para cá a coisa fez foi piorar.
O caso é sério porque atinge
profundamente a dignidade da pessoa humana, e o ruím é que tudo é visto
e ouvido passivamente; diferente de alguns países da Europa onde esse tipo de violência vai parar nos
tribunais.
Não tenho dúvida de que um estudo bem
aprimorado acabará por revelar que os
dejetos dessa indústria que correm todos dias pelas rádios do País apresentam
algum grau de influência nessa nova onda de violência física contra a mulher
que varre o Brasil.
A Constituição Federal Brasileira em pelo
menos cinco incisos do famoso artigo 5, (IV, VI, VII, VIII e IX ) garante a
livre manifestação do pensamento, que se tornou uma espécie de sacramento
quando se fala de liberdade, mas também abriga ressalvas como
interpreta o constitucionalista e ministro do Supremo Tribunal Federal –STF
Alexandre de Moraes que diz que a liberdade de manifestação
de pensamento não exime a possibilidade de apreciação pelo Poder Judiciário
qualquer eventual responsabilização civil ou criminal.
Temos visto nos últimos anos “ hits” que expõe a
mulher da pior maneira possível ser alçado ao topo das músicas mais bem
executadas nas rádios do País. O que dizer desses versos do MC Pano Abre
as pernas e relaxa vem por cima e senta, senta senta... Ou deste
outro funk: Vem amor, bate, não para, com o peru na
minha cara. Bate, bate com o peru na
minha cara.
Este é apenas um dos muitos exemplos O sertanejo, além de sua
vertente romântica e inocente, sempre apostou nesse tipo de composição degradante
e duplo sentido. A dupla Gino e Geno aparece com esta:
Eu Já Fui de Você
“Eu só fui de você, eu não fui de mais
ninguém
Você me fez feliz e eu te fiz feliz também
Eu já fui de você, eu já fui de você
Meu amor eu não me esqueço que eu já fui de você”
Você me fez feliz e eu te fiz feliz também
Eu já fui de você, eu já fui de você
Meu amor eu não me esqueço que eu já fui de você”
E essa outra de Felipe e Falcão.
Monzão no Pau
“Eu
não entendo eu já lhe dei uno zero
Um picasso amarelo tá devendo na cidade
Tô com vergonha com os amigos pegou mal
Porque ela vive andando
Com o seu monzão no pau”
Um picasso amarelo tá devendo na cidade
Tô com vergonha com os amigos pegou mal
Porque ela vive andando
Com o seu monzão no pau”
O que parece num primeiro
momento engraçado é como parte da indústria da música brasileira
trabalha hoje a imagem da mulher: é xingamento que não acaba mais, e
o danado é que muitas ainda vibram, pulam dançam, num tácito aceite
das agressões.
Diante de tudo isso, imagino a Mãe Terra derramando-se em lágrimas
se perguntando “ onde foi que eu errei ? E ao mesmo tempo vertendo lágrimas de saudade
do tempo em que a mulher brasileira era exaltada pelos compositores/poetas como
por exemplo Pinxinguinha o autor de Rosa e Carinhoso
Em carinhoso o compositor se derrete todo.
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz
Já em Rosas o compositor aparece com esse poema:
Tu és divina e
graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Ao ouvir essas duas canções e
viajar na letra do poeta a gente até sente saudades de um tempo não muito
distante que a Mãe Terra viveu.