O tema da redivisão territorial do Brasil desperta vários
sentimentos. Amor pela causa, que remonta ainda ao período da independência, ódio da parte de quem acha que o tema só entra na pauta
às vésperas dos períodos eleitorais; [mas aí surge um problema porque eleição no
Brasil é uma terminando e outra começando] euforia diante da remota
possibilidade de que o sonho se torne realidade, enfim uma verdadeira salada de sentimentos juntando
quem acredita, quem não acredita.
O tema volta a ser debatido no País por conta de um Projeto de Decreto Legislativo
apresentado na primeira quinzena de Agosto no senado pelo senador suplente Siqueira Campos.
No Maranhão a ideia de dividir o Estado tem quase 200 anos.
O nome Maranhão do Sul só veio aparecer
durante o grande movimento para se criar o novo Estado durante o processo
Constituinte de 1989.
A propósito do nome 'Maranhão do Sul" o jornalista e professor Universitário
Marco Antônio Gehlen , tem uma ideia bem definida sobre o tema. Em Janeiro
de 2015, escreveu um rico texto onde ele diz considera um equívoco a escolha
desse nome para identificar o futuro
Estado e que agora republico.
Vale a pena a leitura
O EQUÍVOCO DO NOME MARANHÃO DO SUL
Marco
Antônio Gehlen*
Um
dos propósitos de divisão territorial do Maranhão, hoje muito defendida no
centro-sul do Estado, provavelmente seja a busca pelo reconhecimento das
identidades regionais, ou seja, a distinção entre o perfil cultural e produtivo
das porções norte e sul. Contudo, sem adentrar em outros argumentos
divisionistas ou em discussões sobre benefícios e malefícios de tal separação,
tenho defendido, entre amigos, que seria equivocada a adoção de “Maranhão do
Sul” como nome do novo estado brasileiro fruto de eventual divisão territorial
do Maranhão.
A
título de contextualização é preciso lembrar das duas últimas divisões de
unidades federativas ocorridas no Brasil e suas consequências: Tocantins
desmembrado de Goiás (1988) e Mato Grosso do Sul desmembrado do Mato Grosso
(1977). Além de citar, também, o caso do Rio Grande do Sul e do Rio Grande do
Norte, que possuem nomenclaturas semelhantes e trataremos mais adiante.
Morei
durante 25 anos em Mato Grosso do Sul antes de chegar, em 2009, ao Maranhão.
Vivenciei, portanto, quase toda a trajetória do novo estado recém-dividido do
então Mato Grosso e que, depois de avançar autonomamente em seu próprio rumo de
desenvolvimento, pôs-se a discutir a falta de identidade que o nome Mato Grosso
do Sul (MS) detinha nacionalmente, sendo incontáveis vezes e permanentemente
confundido com o vizinho Mato Grosso (MT).
Hoje,
em Mato Grosso do Sul (mesmo depois de 37 anos da separação do Mato Grosso) é
motivo de irritação aos sul-mato-grossenses quando confundem os estados ou
referem-se a um tratando do outro. E eu partilho tal irritação não por
menosprezar MT em detrimento do MS ou o contrário, mas por me deparar com
tamanha ignorância geográfica.
Há
alguns anos, em Mato Grosso do Sul, foram criadas, inclusive, campanhas
publicitárias na tentativa de sensibilizar o governo sul-mato-grossense a
promover uma mudança do nome do Estado em função dos prejuízos que a confusão
com o vizinho provoca. Prejuízos estes de ordem identitária, de imagem e de
sensação de pertencimento da população local, além de perdas
econômico-turísticas, uma vez que o Pantanal, por exemplo, está localizado nos
dois Estados, mas há tremenda confusão sobre onde desembarcar quando um turista
adquire, em outros estados brasileiros, um pacote de viagens para um destino
pantaneiro. Um movimento específico em Mato Grosso do Sul chegou sugerir que o
Estado alterasse seu nome para Estado do Pantanal, como forma de se diferenciar
do vizinho ao norte e, ainda, atrair turistas ao seu grande mote turístico, o
Pantanal.
No
entanto, para efeito dessa discussão pontual pouco importa o ônus e o bônus de
tais desmembramentos, todavia, continuam o nome Mato Grosso do Sul e a confusão
com o Mato Grosso. Até mesmo a consagrada mídia nacional, costumeiramente,
atrapalha-se ao informar se a capital de MS é Cuiabá ou Campo Grande.
No
caso do Maranhão, o sucesso de eventual movimento divisionista tem em si a
grande oportunidade de não incorrer em equívoco semelhante. Permanecer com o
nome “Maranhão” e apenas acrescentar “do Sul” significará uma divisão
geopolítica concreta, mas continuaremos a ser, aos olhos do restante do Brasil,
o Maranhão. Não haverá diferença, nem campanha publicitária, capaz de reeducar
a população brasileira a conceber que, a partir de determinado momento, tratar-se-á
de dois estados.
Um
outro bom exemplo é o caso do vizinho Tocantins, localizado ao sul do Maranhão,
que foi desmembrado há apenas 26 anos e já não sofre com confusões em relação
ao estado de Goiás, pois se separou adotando nova identidade, um nome novo,
capaz de promover a distinção nacional entre o que é hoje e o que foi no
passado.
Há
quem lembre, ainda, do Rio Grande do Norte e do Rio Grande do Sul que possuem
nomes semelhantes e pouco são confundidos. No entanto, neste caso, a distância
cultural e geográfica, bem como o fato de nunca terem pertencido um ao outro,
construíram no imaginário coletivo nacional a noção de que se trata de duas
coisas completamente diferentes. E ambos se favorecem com a “não confusão”.
Por
fim, no caso do Maranhão, temos nós, personagens dessa história em movimento, o
dever e a oportunidade de refletir, previamente, sobre os problemas que podemos
evitar no futuro, caso consigamos, antes de dividir o Estado, pensar em um nome
digno de representar adequadamente esta nossa terra.
*O
professor Gehlen é Doutor em Comunicação (PUC-RS), mestre em
Agronegócios (UFMS), pós-graduado em Comunicação Empresarial e graduado em
Jornalismo. Desde 2009, é professor e pesquisador da UFMA, em Imperatriz.