6/19/2023

Escassez de reciprocidade

 

ElsonMAraujo

Os filhos de Imperatriz são aqueles cujo natalício ocorreu aqui. Mas a cidade também tem seus filhos adotivos. Aqueles de outras regiões do Brasil e do exterior que escolheram a cidade para fazer morada, constituir família, empreender e progredir na vida. A cidade, ao longo dos anos, tem sido uma grande e acolhedora mãe que hoje abriga filhos naturais ou adotivos, de toda natureza.

A regra é que um filho, ou um pai, ou uma mãe, se amem mutuamente, numa relação de reciprocidade, com cada um zelando um do outro, e juntos, cidade e cidadão, a contribuir com o crescimento e o desenvolvimento de cada um. É lamentável que hoje sinta-se em Imperatriz a prevalência de uma acentuada escassez de reciprocidade com reflexos negativos em todo organismo citadino.

O que conhecemos como infraestrutura é o mais sentido, mas outros setores também são atingidos. Podemos, por exemplo, num futuro não muito distante, sofrer falta de água potável se não houver uma intervenção no cuidado com a fonte que nos abastece. Já são anos de maus tratos. Falo do Rio Tocantins. Os riachos (afluentes) que ali desaguam, se transformaram em valas de esgoto e já estão praticamente mortos. Para lá também acorrem os eflúvios humanos e não humanos, sem qualquer tratamento. Ruim para a saúde do rio e da população, trágico para as gerações futuras.

Sempre faço essa pergunta: será que ainda tem jeito?   Será que não daria para diminuir os impactos disso tudo, e pelo menos retardar o que pode ser considerado, pelo quadro de hoje, uma tragédia anunciada, que será a falta de água potável? Acredito que já haja tecnologia para isso, mas nenhum setor se manifesta. Na questão ambiental também estamos à deriva.

Aí vem a coleta deficitária do lixo, que se agrava com a falta de consciência ambiental de quem gera os resíduos, acondicionado de qualquer maneira; e muitas vezes nem isso. Veja como amanhece todas as manhãs nosso principal cartão postal, a Beira Rio!  E como nosso rio, a cada dia, se transforma num depósito de lixo. É de fazer dó.

Até hoje o aterro sanitário da cidade não foi concluído. O lixo hoje é fonte de energia e de riqueza, quando seletivamente recolhido, mas pode se tornar um caso de saúde pública se não for adequadamente recolhido e acondicionado, de igual modo.

É patente que essa escassez de reciprocidade não é só em relação cidade e cidadão, mas também entre o poder público e a cidade. Certo é que o cidadão precisa fazer sua parte, e nesse aspecto todos sabem o que não deve ser feito, mas a parcela maior da responsabilidade é do executor do contrato social, no caso o ente público, que recebe nossos impostos para devolvê-los na forma de serviços públicos e não o faz, como deveria. A via, não tem sido de mão dupla.

É de se questionar! O que adianta uma cidade com uma geografia privilegiada, construída por brasileiros de várias partes do Brasil e do mundo, com um rio maravilhoso, o segundo maior rio genuinamente brasileiro, uma cidade que obedece a direitinho o regime de chuvas, que abriga a maior fábrica de celulose do mundo, com inúmeros cursos de graduação, incluindo três de medicina, sendo dois públicos, e um comércio forte, se a mesma não recebe os cuidados necessários para se desenvolver? 

Sou até muito otimista, mas pelos problemas não enfrentados e que só se acumulam, a cidade corre o risco de sofrer um processo continuo de involução e ferir de morte as gerações futuras. Tal qual uma empresa, uma cidade mal conduzida por sua gente pode falir.

Avalio que o quadro é de natureza grave, e que é necessário que a cidade reaja sob pena do comprometimento do futuro da cidade. É preciso que se pense, se projete e se articule um futuro menos sombrio para Imperatriz com o objetivo de, pelo menos, a gente se aproximar da cidade, na qual verdadeiramente queremos morar e deixar de herança para os outros que virão.

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