ElsonMAraujo
Como membro da Academia
Imperatrizense de Letras (AIL), onde ocupo a Cadeira 02, fundada pelo advogado, jornalista, político ,
escritor e historiador, Salvio Dino, e que tem como patrono Parsondas de
Carvalho, tenho tido a deliciosa oportunidade, uma vez ou outra, de me deparar
com questões históricas, há muito esquecidas, sobre a formação cultural e populacional do sertão maranhense,
a partir dos “Pastos Bons” , a povoação
que dera a origem à grande maioria dos municípios que forma hoje o que passamos
a chamar de região tocantina maranhense, no Sudoeste do Maranhão.
A curiosidade tem me empurrado
para os caminhos da história. A procurar obras esquecidas, e até desconhecidas,
a conversar com os confrades sobre temas diversos a respeito de como se procedeu
a formação desse conglomerado de cidades e gentes de todas a regiões do Brasil
e do mundo, onde hoje habitamos e que reúne, se não tiver ultrapassado, cerca de
um milhão de habitantes.
Do conjunto do que li, até agora,
já é possível afirmar que, a quem interessar possa, nossa história rende
dezenas, ou centenas de roteiros para séries, minisséries, e cinema
propriamente dito. Estamos numa região gestada com sangue, suor, e tonéis de lágrimas e
personagens épicos.
A AIL tem o privilégio de
abrigar entre seus membros quem sempre se preocupou em resgatar os fatos
importantes ocorridos nessa banda do Maranhão; principalmente aqueles ocorridos
no final do século XVIII e da inteireza do século XIX. Seja no modelo de
romance, como bem tem feito o advogado e escritor Agostinho Noleto, no formato
de pesquisas acadêmicas (teses e dissertações) como fazia muito bem o já
falecido professor João Renôr Ferreira de Carvalho, ou por pura vocação
histórica, como tem feito ao longo da vida o incansável Edmilson Sanches, o
pesquisador literário e poeta Ribamar Silva, o acadêmico Domingos Cezar, o polemista
histórico Sálvio Dino e o saudoso Adalberto Franklim. Expoentes da pesquisa histórica da AIL que
merecem reconhecimento.
Adalberto Franklim é um capítulo
à parte. Como editor, um dos maiores do Maranhão, e com uma queda pela
história, tanto que se tornou membro, assim como o confrade Sanches, do
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, e diante da sua Ética Editora,
resgatou e publicou elos perdidos (esquecidos) da história da região, do
Maranhão e do Brasil. Foi assim, que há
17 anos, junto com confrade João Renôr Ferreira de Carvalho, trouxe a lume
um dos mais importantes documentos históricos publicados no País, na primeira
metade do século XX: o livro O
Sertão, subsídios para a história e a geografia do Brasil, da escritora
sertaneja Carlota Carvalho.
O livro, uma obra ambiciosa
lançada no Rio de Janeiro, em 1924, pela Empresa Editora de Obras Cientificas e
Literárias, que alcançou repercussão nacional. Um apurado trabalho de pesquisa
histórica/geográfica com citações de fontes, que passam pelos principais fatos
da história do Brasil com ênfase a episódios que marcaram a história do
Maranhão. Um trabalho de fôlego onde a
autora não se limita à simples narrativa histórica, mas, faz questão de
retratar seu olhar crítico sobre fatos e personagens muitas vezes romantizados
pela história convencional.
Percebe-se na leitura de O Sertão,
uma escritora destemida, detalhista e extremante culta, que bebia nos grandes
clássicos da literatura mundial e que manuseava com maestria as palavras.
Talvez por isso, por puro preconceito, tenha surgido a “tese” de que não teria
sido dela, mas sim do irmão, Parsondas de Carvalho, a verdadeira autoria da
obra. Tese polêmica defendida por Salvio Dino, que lhe rendeu vários artigos,
palestras e até um livro. Confesso que cheguei a me filiar nessa corrente por ter
ouvido, até então só um lado. Depois
da atenta leitura de O Sertão, meu entendimento mudou. Acredito até que o irmão
de Carlota, por ser um homem das letras, por ter conhecido cada palmo, cada
canto, cada nascente, cada córrego, rios e riachos, morros e serras do sertão
maranhense, e por, na sua época, ser uma pessoa muito influente na província, em
algum momento tenha contribuído para a construção do manuscrito, mas pelo menos
para mim, até provas em contrário, a obra é mesmo de Carlota Carvalho.
Pela importância de o Sertão
para a história do Brasil e do Maranhão, bem como do sertão maranhense, garanto
que um ano seria insuficiente para dissecar a obra. São muitas informações,
pedaços soltos da nossa história que merecem uma melhor investigação acadêmica.
De tão importante, a obra já virou até tese de doutorado, na Unisinos (RS), da
lavra da professora doutora Regina Célia, hoje do corpo diretivo da
Universidade Estadual da Região Tocantina Maranhense (UEMASUL).
Atraída pela obra de Carlota,
Regina Célia defendeu a tese intitulada Por caminhos de terra e de tinta: a
trajetória de Carlota Carvalho, uma escritora nos sertões maranhenses (séculos
XIX e XX), que teve como objetivo investigar a trajetória
da professora e escritora Carlota Carvalho, buscando compreender os elementos
que constituíram sua formação intelectual, bem como o significado que sua obra
“O Sertão” teve para a historiografia do Brasil e, em especial, para aquela que
se debruçou sobre o sul maranhense.
Sobre Carlota, Regina Célia
escreve que ela foi uma professora normalista, nascida em meados do século XIX
nos anos finais do império no sertão maranhense a partir dos primeiros anos da
República. Além de escrever o Sertão, ela teria escrito vários artigos sobre
temas atinentes ao homem e à mulher sertanejos.
O Sertão, de Carlota Carvalho,
além de uma deliciosa e construtiva leitura é um grato convite para a geração
de hoje conhecer melhor o torrão onde pisamos. Um verdadeiro um tesouro com um
pé na ciência e outro na literatura.
Do livro (risos) só não gosto
de uma parte dedicada à então incipiente Imperatriz.
“Falando da Vila Imperatriz em
particular, diremos que bom só tem o homem que a habita”.
Não tem uma biblioteca, não
tem um grêmio em que possa haver uma conversa que não seja maledicência; não
tem um jornal”, relata ela sobre a Imperatriz do início dos anos 1920.
Mulher das letras, hoje ela
ficaria feliz de encontrar uma cidade, ainda com muitos problemas, mas que tem
uma Academia de Letras, que não deixa de ser um grêmio literário, tem um jornal
diário, há 53 anos e que a cidade se consolidou como polo educacional, comercial
e industrial.
Ela ficaria feliz, sim!
<script async src="https://pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js?client=ca-pub-9362665932256579"
crossorigin="anonymous"></script>