A morte deveria ser assim: um céu que
pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim... ( Mário
Quintana)
Há mortes e há mortes. O que existe em
comum no evento morte é que nunca acostumamos com ele. O que há de mais certo nesse mundo de “meu
Deus” é que numa hora, ou num segundo, ela vem e não quer nem saber se estamos
preparados ou não. Não importa os pré-datados para cobrir; a colheita que tem
que ser feita, aquele compromisso social agendado há meses, a tão sonhada
viagem, a formatura dos filhos, nada. Ela chega e pronto: leva nossa essência rumo ao desconhecido. Como consolo, por horas, deixa para trás a
nossa forma humana sobre a qual depositamos nossas lágrimas, dor, sofrimento
e lembranças.
A morte do advogado Lula Almeida
ocorrida no início desta semana não foi uma morte qualquer. É por isso que comecei a coluna de hoje
dizendo que há mortes e mortes. A morte
de Lula deixa marcas profundas não só entre seus entes, mas na cidade. Nesses 30 anos de morada em Imperatriz (
Maranhão) o nosso Lula não conseguiu
passar sem ser notado. Não só pelo seu tamanho, riso solto ou pela sua brilhante oratória,
mas por influir positivamente na vida da cidade e das pessoas. “O Lula
foi o pai que não tive. Incentivou-me a
voltar para a sala de aula depois dos meus 40 anos” testemunhou aos prantos o blogueiro Francisco Fontinele minutos antes do corpo de Lula ser sepultado.
O Fontinele é apenas uma, diria, das
centenas de vidas influenciadas positivamente por Lula Almeida nesses 51 anos
de vida terrena, tanto em sala de aula
quanto no dia a dia de seus afazeres. O
Lula era um exemplo clássico de que é possível transformar sonho em
realidade. Basta conhecer um pouco de
sua origem para se chegar a essa certeza. Ele
se encaixaria direitinho na seguinte definição do russo Bertold Brecht:
" Há homens que lutam um dia e são bons, há
outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito
bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis"
Guardo boas lembranças dos anos de convivência com
Lula Almeida. Lembranças que certamente o eternizarão enquanto minha forma humana por aqui permanecer.
Quando perdemos alguém que nos fará
falta, como o Lula Almeida, somos
surpreendidos por reflexões espontânea sobre a morte. São tantos pensamentos,
tantas vozes “falando ao mesmo tempo”
que surge a necessidade de nos aquietarmos por alguns instantes para tentar compreender tal fenômeno. Por alguns
segundos e raros minutos, nos desprendemos do mundo ao nosso redor e voltamo-nos
para dentro de nós.
São tantas perguntas, tantos
pensamentos, tantas vozes silenciosas gritando. Uma querendo se
sobressair mais do que a outra; assim, percebe-se a necessidade de
um pouco de equilíbrio no silêncio para que as vozes do que
chamamos de mal não vençam a batalha da comunicação interior
e não ousemos a brigar com Deus. A morte
é uma certeza e dela não podemos fugir.
O nosso consolo é que somos a soma do
tudo e do nada ao mesmo tempo. Somos filho de uma força que está além da
nossa frágil e incipiente compreensão. Acredito que cada um de nós tem
uma senha, um código secreto. Tão secreto, que por mais que nos esforcemos não
conseguimos acessar.
Acredito que essa senha só nos é
revelada quando morremos e ninguém quer, ou espera morrer para que
a ela tenha acesso. O Lula Almeida descobriu aos 51 anos de idade
essa senha, mas a levou com ele.
Vai em paz meu irmão !