Nada mais salutar
na nossa jovem democracia, do que a liberdade de expor o pensamento por meio das
suas mais diversas formas de manifestação. Liberdade essa, fortalecida ainda
mais com a explosão do fenômeno das redes sociais. Com 143 caracteres, ou menos,
hoje é possível resumir para o mundo aquilo que se pensa sobre qualquer
assunto. Dependendo do quê, e de quem seja o autor da frase, a resposta,
positiva ou negativa, pode ser imediata e provocar, ou não, uma “revolução” e
mudar os rumos estabelecidos. Tem sido assim, no Brasil e nos países livres e
nos quase livres.
O pensamento pode
ser lido e ignorado, aplaudido ou criticado, agressivo ou amável, ofensivo, ou
não, mas o autor hoje, no Brasil, conta com o direito de exercê-lo mesmo com o
risco de vir a responder judicialmente por ele como está escrito lá
na nossa Constituição.
Até pouco tempo a
prerrogativa de dizer livremente o que bem se entendia era impensável, como bem
lembrou recentemente num evento acadêmico sobre os 50 anos do golpe militar no
Brasil o juiz de direito Marlon Jacinto Reis. Pensar diferente do poder
estabelecido poderia custar a vida de uma pessoa, ressaltou o magistrado ao
exaltar a liberdade que o cidadão brasileiro tem de poder se expressar
livremente sem censura ou do risco de vir a ser punido até com a morte, como
era comum durante os 21 anos da Ditadura Militar. Talvez não tivesse sido
diferente se se tratasse de uma ditadura de esquerda.
A história comprova
a cada dia, que ditadura, seja de direita ou esquerda, não serve para a
humanidade. No Brasil de hoje, por incrível que possa ser, o patrulhamento
sobre o que se diz não vem, pelo menos oficialmente, do aparelho estatal, mas
de determinados grupos, ou indivíduos que ao discordar de um, ou outro ponto de
vista, não partem para o embate de ideias sendo a opção pela calunia, injuria e
difamação.
Se há um pensamento
comum e convergente, surgem os deuses, se aparece um pensamento divergente,
rapidamente os deuses são reduzidos a demônios. Não há respeito pelo que
o outro pensa ou defende. A regra é agredir para desqualificar.
O poeta e ensaísta
francês Fraçois Marie Arouet (1694-1778) mais conhecido por Voltaire, no seu
tempo, já se preocupava com o tema da liberdade de expressão. Teria sido dele,
embora haja controvérsias, a tão decantada frase“Posso não concordar com
nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de
você dizê-las”. Dúvida quanto à autoria á parte, tal citação,
tornou-se ao longo dos anos lema da luta pela liberdade de expressão.
O mundo mudou, está
mais rápido mais ágil no veicular das noticias, teorias, teses, verdades
prontas, mentiras; projetos e ideologias o que fatalmente obriga ao surgimento
de um cidadão cada vez mais critico e capaz de filtrar o que vê, ouve, e o que
lê nesse universo virtual para não se deixar contaminar por ideologias
contrárias aos ideais democráticos.
Numa democracia é
preciso que as pessoas tenham ao seu dispor e cultivem a pluralidade de ideias
e pensamentos, e delas tirem o proveito necessário para melhorar a vida em
sociedade. Não se pode correr o risco do fortalecimento do pensamento único,
pois é assim que surgem os déspotas, os tiranos, os ditadores capazes de
atrocidades para se imortalizarem no poder. Numa democracia fortalecida pela
liberdade da livre manifestação do pensamento e pelo cultivo da pluralidade de
ideias, o mal certamente terá mais dificuldade de prosperar.