Originalmente publicado em 2017
ElsonMAraujo
Nunca foi fácil cumprir regras, contudo elas se
tornaram necessárias a partir do surgimento dos primeiros agrupamentos humanos,
ou seja, as aldeias, tribos, clãs, que deram origem às nações de hoje. Dessa
necessidade de se organizar, e por vezes pacificar a convivência humana,
surgiram os códigos estudados atualmente nos livros de História tais como
Hamurabi, a Lei das XII Tábuas e os códigos de Manu e Draco, só para citar os
mais conhecidos, e dos quais se herdaram muitos dos fundamentos contidos nas
legislações penais mundo afora.
Assim como o homem sempre teve dificuldade de
seguir regras, as mesmas sociedades, que por intermédio de seus legisladores as
ditaram, sempre tiveram dificuldade de fazer com que essas fossem cumpridas.
Na Bíblia Sagrada, no livro do Exôdo, inserto no
Antigo Testamento, está escrito que o próprio Deus ditou a Moisés os Dez
Mandamentos, que certamente se fossem cumpridos tornariam a sociedade humana
mais harmoniosa. Mas não é isso que se
constata em dias atuais. O que se percebe é que nem Deus, com essas dez
regras do “bom viver”, conseguiu deter
alguns comportamentos humanos reprováveis aos Seus olhos.
Digamos que se pelo menos 50% do que ditou o Pai
Celestial a Moisés fossem praticados por nosotros, não tenho dúvida nenhuma, de
que as relações humanas não estariam hoje assim, tão conturbadas.
Interessante observar que alguns dos “bens”
contidos nos Dez Mandamentos são protegidos pelo Divino, e a sentença por esse
tipo de infração, segundo os ensinamentos cristãos, é a “ida para o inferno”.
Outros, outra vez pelo Divino, e pelas
leis vigentes, o que pode originar aí uma dupla sentença: uma espiritual e
outra humana.
O que dizer do Sexto Mandamento- não matarás- que
foi tipificado, no caso do Brasil, a partir do artigo 121 do Código Penal? E do
Oitavo- não furtar, também positivado no nosso Código Penal no
artigo 155? Bastaria o cumprimento desses dois dispositivos pra coisa começar a
melhorar no mundo, o que se sabe ser uma utopia. Um sonho distante de vir a ser
cumprido, mas não de ser sonhado. Vida e patrimônio, bens protegidos pela Lei
de Deus e pela Lei dos homens desrespeitadas todos os dias no mundo inteiro.
É esse o grande problema, por exemplo, do Estado
Brasileiro: detentor de uma overdose de leis, mas que, no “frigir dos ovos”,
não são cumpridas nem respeitadas, justamente pelo fato desse Estado não oferecer
as condições necessárias para que tais dispositivos sejam integralmente
cumpridos.
Portanto, de pouco adianta criar novas leis,
emendar a Constituição,
mudar o regramento já existente, como querem agora com a redução da maioridade
penal, se antecipadamente já se sabe que não vai adiantar nada, sendo mais um
“show para agradar a plateia” e proporcionar uma falsa sensação de que a partir
dessa mudança a violência vai diminuir no País.
Aposto com qualquer um se essa mudança trará mais
segurança para a sociedade.
Assinado à época pelo padre Plínio Possobon, um
trecho do mencionado documento assinala que:
“Não é justo pretender reduzir a idade da
responsabilidade penal sem antes cobrar a implementação das medidas previstas
pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente. Os
especialistas consideram que a recuperação do cidadão em desenvolvimento não
pode se dar através do sistema penal, considerado arcaico e falido pelo
Judiciário, mas sim através das medidas socioeducativas previstas pela
legislação atual. (CNBB, 1999, p.2)
Já me atrevi a escrever sobre esse assunto numa
coluna anterior. De fato, com a falência visível do sistema penal/ prisional
brasileiro e sem nenhuma solução, pelo menos aparente para essa problemática, a
redução da menor idade penal só agravará mais ainda a situação, com o aumento
da população carcerária brasileira que, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça
–CNJ, já é a terceira do mundo com 715.655 presos. O Brasil perde somente para
os Estados Unidos, que abrigam 2.228.424 presos, e para a China com 1.701.344
presos.
Possuímos um sistema prisional, como é notório, que
além de não ressocializar ninguém, encontra-se atualmente sob o domínio do
crime organizado.
Diante do exposto é fácil concluir, portanto, que
encher as prisões de adolescentes infratores, sem a menor sombra de dúvida, não
reduzirá a violência. E como não temos prisão perpétua, no modelo vigente, a
redução da maioridade penal no Brasil só produzirá uma nova casta de
criminosos, jovem e mais feroz. Um verdadeiro tiro no pé.
Quem viver, verá.