Por tudo que se viu e ouviu até agora sobre a tragédia de
Santa Maria percebe-se que o sinistro que resultou na morte de 231 jovens não
teve uma única causa. O uso do sinalizador pela Gurizada
Fandagueira, foi apenas o “gatilho” para que tardiamente agora se saiba que a boate estava
com o alvará vencido e que não observava um conjunto de normas de segurança, inobservância comum em
estabelecimentos similares Brasil afora.
DA UOL ON LINE
EDUARDO
GERAQUE
DE SÃO PAUO
PEDRO SOARES
DO RIO
DE SÃO PAUO
PEDRO SOARES
DO RIO
Erros de gerenciamento da casa de shows
foram a causa da tragédia de ontem, em Santa Maria, no interior gaúcho, segundo
especialistas ouvidos pela Folha.
De acordo com eles, a lição que fica é que é preciso cultivar uma cultura de
prevenção a grandes incêndios no país.
O incêndio deixou ao menos 231 mortos
(a maioria por asfixia) e 106 hospitalizados.
A boate Kiss era uma das
principais casas noturnas da cidade e era famosa por receber estudantes
universitários. Segundo o coordenador da Defesa Civil, Adelar Vargas, o fogo
começou na espuma de isolamento acústico quando um dos integrantes da banda que
se apresentava acendeu um sinalizador, que atingiu o teto.
O guitarrista da banda Gurizada
Fandangueira, Rodrigo Lemos Martins, também disse àFolha que
o fogo começou depois que o sinaleiro (chamado por ele de "sputinik")
ter sido aceso. Um segurança da casa e o vocalista da banda tentaram apagar o
incêndio, afirma o guitarrista, porém o extintor não funcionou.
Veja a lista de 231 mortos
identificados em incêndio
Sobreviventes de incêndio na boate Kiss voltam a hospitais
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Sanfoneiro da banda que tocava em boate morreu em incêndio
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Sanfoneiro da banda que tocava em boate morreu em incêndio
Para Valdir Pignatta e Silva, professor
da Poli/USP e especialista em segurança contra incêndios, houve ali uma
sucessão "absurda" de erros. Ele cita a falta de sinalização para a
saída de emergência e o fato de haver apenas uma porta de acesso ao local.
Também afirma que o teto da boate era feito de material inflamável.
O pesquisador da Coppe/UFRJ
(Coordenação de Programas em Pós-Graduação em Engenharia) Moacir Duarte diz que
as pessoas foram vítimas de uma "desorganização primária".
"Um vistoria simples, de menos de
duas horas, feita por um bombeiro, bastaria para vetar o local para a
realização de shows", disse. "Há uma cadeia enorme de
responsabilidades."
Além das falhas na estrutura, Duarte
cita ainda o problema da falta de rádios para a equipe de segurança.
Sem saber o que acontecia, seguranças
na porta da boate pensaram inicialmente que o tumulto havia sido causado por
uma briga e barraram as pessoas para que elas não deixassem o local sem pagar a
conta. Enquanto isso, outros funcionários tentavam combater as chamas em outro
local.
CULTURA
Pignatta e Silva, da Poli, afirma que
as pessoas precisam criar um cultura de salvaguardar sua vida em situações como
a encontrada ontem no Rio Grande do Sul.
"Infelizmente, o fato de existir
uma casa com capacidade para mais de mil pessoas, em um ambiente totalmente
fechado, não deu um alerta na cabeça de ninguém. Ainda mais com objetos
pirotécnicos no palco", afirma.
Segundo ele, em outros países do mundo,
como na Inglaterra, as pessoas têm na memória incêndios que ocorreram no século
17. "Provavelmente, nem você nem eu teríamos nos preocupado com um
incêndio, se tivéssemos naquela boate", diz.
VELÓRIO
Um ato ecumênico, em homenagem às
vítimas do incêndio da Boate Kiss, está previsto para ocorrer na manhã desta
segunda-feira em Santa Maria (RS). A celebração será feita pelo arcebispo da
cidade, dom Hélio Adelar Rupert no CDM (Centro Desportivo Municipal), onde
acontece um velório coletivo das vítimas.
Durante a madrugada, cerca de 40 corpos
ainda eram veladas no ginásio. Segundo autoridades, apenas um corpo, de uma
mulher, ainda não havia sido identificado. Oito corpos, já identificados, ainda
não tinham sido procurados pelas famílias e foram transferidos para caminhões
refrigerados.
O enterro da maior parte das vítimas
deverá ocorrer no cemitério municipal, onde o Exército já trabalhava desde
ontem para abrir as covas, mas ainda não há previsão de horário. Muitos corpos
foram levados para outras cidades próximas a Santa Maria e para Porto Alegre
(RS).